A boca careca da noite, banguela e carente como ela só, ainda insiste, mesmo diante desse ano novo, em fazer açoite do que deveria ser assunto. Nada mudou em essência. Nada mudou e, pasmem, nada mudará. Eu sei que é cedo pra gritar, mesmo que o pulmão aguente, então perdoem o pé na porta logo no primeiro texto do ano, caros leitores, mas essa gente que hoje se apossou da cultura brasileira não dá sossego. É porrada em cima de porrada, absurdo em cima de absurdo, crime justificando crime. Infelizmente.
Escrever mais um texto falando de Roberto Alvim, se regozijando em uma live ao lado de Jair Bolsonaro, pode parecer chover no molhado, admito. No entanto, é preciso inundar de coragem e de glória um espaço como esse, dedicado ao teatro, sempre que nos julgarmos ofendidos e ridicularizados como temos sido nos últimos meses. A tal guerra cultural, há muito anunciada por essa gente, além de não nos colocar medo algum nos faz pulsar. Pulsar em tom de manifesto e de resistência, num grito de dor e de esperança dirigido a essa gente tão pequena quanto insignificante.
Acreditamos que o mundo continua a girar e, como disse a querida Fernandona, isso nos faz crer no amanhã.
Acreditamos que o mundo continua a girar e, como disse a querida Fernandona, isso nos faz crer no amanhã. Crer na força do teatro, na importância de um palco enquanto trincheira, na permanência de nossa era feita de amor e de criação. Não nos submetemos, nunca o faremos, e a prova clara disso é que mesmo diante da fuça de Alvim e de seus asseclas o teatro floresce e surpreende. Basta correr os olhos pelas salas de sua cidade para perceber que a guerra cultural é uma falácia. Não há força que mate a liberdade, conquistada a sangue e sonho, que arde no teatro brasileiro de hioje.
Que sequem as leis de incentivo, coisa absurda, que saiam às ruas todas as polícias ideológicas, munidas de seus cachorros espumantes; que morram até mesmo essas flores brutas que hoje regamos. Pouco importa. O novo ano trouxe em seu bucho apenas o alimento que precisamos para continuar.
É primavera desse lado do equador e insistiremos em tornar floresta aquilo que burocrata queimou. A coluna volta com a força de Dioniso e a certeza de que o teatro é sempre mais do que os inimigos pensam. Insistimos, reexistimos e vamos adiante, afinal descer do bonde é coisa pra essa gente que, mesmo do mais alto cargo da República, insiste em nunca tomar os trilhos do futuro.