Na primeira semana de março, estreou uma das novas atrações da grade da Record. O Domingo Show – programa que, por 5 anos, enquanto era capitaneado por Geraldo Luis, foi um dos maiores exemplos da TV assistencialista brasileira – voltou à programação reformulado. Mas a principal novidade é a mudança do apresentador: Sabrina Sato voltou da licença maternidade e assumiu o comando do programa que dura três longas horas na grade costumeiramente enfadonha do domingo.
É um desafio e tanto, vale dizer. Concorre, ao mesmo tempo, com atrações já muito antigas e consolidadas na grade (como Chaves e Domingo Legal no SBT, e Esporte Espetacular e The Voice Kids, na Globo). No primeiro episódio, os resultados não foram os melhores, mas isso não impede de reconhecer aqui a coragem do novo programa de testar algumas estratégias bastante imprevistas num dia da semana em que os programa prezam por fórmulas engessadas e repetidas há muitos anos.
Em três horas, Domingo Show encara o desafio de apresentar muitos quadros e “grudar” o espectador médio para que ele não surfe em outras ondas. Neste quesito, talvez o ponto fraco do programa sejam que alguns destes quadros têm pouca originalidade, já que operam na zona de conforto dos domingos. No “Lindos e Casados”, por exemplo, um casal passa por provas para ganhar uma lua de mel – numa premissa muito semelhante ao Fábrica de Casamentos, misturada com o infalível formato de transformação (quando participantes são submetidos a makeovers e o programa faz suspense para, muitos minutos depois, mostrar como eles ficaram). No quadro “Cantada”, mais divertido, há uma mistura de programa de namoro com show de calouros.
É preciso dizer, é claro, que a principal qualidade deste novo Domingo Show é a própria Sabrina Sato. Para quem não lembra, Sabrina despontou na grande mídia em 2003, ao participar de Big Brother Brasil, e desde então apenas ascendeu profissionalmente. Faz parte do escasso grupo de ex-participante de reality show que conseguiu criar uma reputação independente de seu início televisivo (participam desta “casta” gente como Jean Wyllys e Grazi Massafera).
Sabrina Sato é um daqueles casos raros de personagem midiático cujo carisma peculiar toca no inexplicável. Ela encarna uma figura idiossincrática, de uma mulher ultra sensual, por um lado, e atrapalhada, por outra. É uma moleca, de sotaque caipira meticulosamente mantido ao longo dos anos, e de uma beleza exótica bem brasileira, uma vez que mistura diversas origens étnicas. Estabeleceu, durante sua já estabelecida carreira, uma marca vocal do “r” acentuado, típico do interior. Sua figura extremamente empática é a matéria prima de seu sucesso: tinha tudo para dar errado, mas no fim se torna extremamente cativante para a grande audiência.
Sabrina Sato é um daqueles casos raros de personagem midiático cujo carisma peculiar toca no inexplicável. Ela encarna um personagem idiossincrático, de uma mulher ultra sensual, por um lado, e atrapalhada, por outra.
A grande atração do novo Domingo Show é justamente o quadro que homenageia o “hibridismo” da figura de Sabrina. Dentro do programa, o esquete “Made in Japan” é apresentado como um reality show originário do Japão, com a presença de apresentadores do próprio país. É um quadro de confinamento em que celebridades lado B – uma marca da Record, que explora esse filão muito bem em programas como A Fazenda e Power Couple Brasil – participam de provas e acumulam pontos para ganhar, no fim, 500 mil reais. O elenco é escolhido a dedo: o ex-jogador Richarlyson, um dos gêmeos Flávio e Gustavo Mendonça, a mãe da cantora Ludmilla, o ator conhecido por encarnar o Cabeção em Malhação, o humorista Gui Santana e Luiza Ambiel (famosa pelo quadro da banheira do Gugu no Domingo Legal dos primórdios), entre outras subcelebs.
Mas a grande expectativa era pelo reencontro entre Sabrina e o último participante do quadro: Dhomini, o vencedor do Big Brother Brasil de 2003, a mesma edição que lançou Sabrina, e com quem namorou durante o programa. Eis aqui um casal de ouro da trash TV, finalmente reunido, num encontro propositadamente constrangedor. Os participantes chegavam num caixa de madeira “direto do Japão” e eram anunciados por Sabrina. Na vez de “adivinhar” quem estava na caixa, Dhomini soltou um “digamos que você beija bem”. Sabrina envergonhada frente a um ex-namorado que expõe sua intimidade é o puro suco do nonsense que deve marcar os programas encabeçados por ela.
O quadro, aliás, talvez seja a grande novidade neste novo Domingo Show, pois repete toda uma estética nipônica a qual nós, brasileiros, não estamos acostumados. Por isso, o cenário é vibrante, recheado de cores pasteis ou gritantes, muitos risos e japoneses sorridentes, fazendo tudo parecer um grande mangá. A ousadia, ao que parece, tentará captar os jovens, especialmente os adeptos à cultura oriental em geral ou à cultura k-pop, vinda da Coreia do Sul.
Se o novo Domingo Show vai vingar ou não, ainda não temos como saber, mas os ingredientes são bons: quadros que beiram o nonsense, celebridades trash que todo mundo adora ironicamente cultuar, e uma apresentadora capaz de encarar tudo isso de forma despretensiosa, rindo de si mesma o tempo todo.