É profunda e, ao mesmo tempo, poética a atmosfera que se cria logo no início do documentário O Sal da Terra (2014). A produção, indicada ao Oscar de melhor documentário em 2015, retrata a vida e a obra do brasileiro Sebastião Salgado, um dos mais famosos fotógrafos da atualidade. A abertura do documentário exibe comunhão equilibrada entre o que se vê e o que se ouve, harmonia chamativa entre imagens e narração, enquanto Sebastião Salgado expõe para quem assiste suas sensações ao visitar o garimpo de ouro de Serra Pelada, no Pará.
Na medida em que lentamente passam diante dos olhos do espectador imagens daquilo que parece um “formigueiro humano”, com milhares de pessoas subindo e descendo por um terreno com ângulo de praticamente noventa graus, o fotógrafo narra: “Vi passar diante de mim, numa fração de segundo, a história da humanidade. A história da construção das pirâmides, a Torre de Babel, as minas do Rei Salomão. (…) Eu tinha regressado ao início dos tempos”.
Em alguns momentos, o documentário abre espaço para a metalinguagem, com o biografado lançando sua lente para a equipe de produção do filme. Fotografias que resultam dessa ação foram selecionadas durante o processo de montagem..
O clima impactante do início permanece até o fim do filme dirigido pelo cineasta alemão Wim Wenders e pelo filho do fotógrafo, Juliano Ribeiro Salgado. A narração do biografado é constante.
Ela é complementada com imagens sobre a vida do profissional no momento em que o documentário foi gravado e, claro, com inúmeros registros fotográficos feitos por ele em suas várias andanças ao redor do mundo.
Essas muitas fotografias retratam temas envolvendo exclusão social (incluindo populações latinas e africanas pouco conhecidas, trabalhadores e refugiados), além de imagens que chamam a atenção para a necessidade de preservação ambiental.
Em alguns momentos, o documentário abre espaço para a metalinguagem, com o biografado lançando sua lente para a equipe de produção do filme. As fotografias que resultam dessa ação foram selecionadas durante o processo de montagem.
O Sal da Terra é material indispensável para todos os interessados em ter, em pouco menos de duas horas, um vasto panorama sobre quem foi Sebastião Salgado e conhecer (ou rever) parte de seu imenso acervo de marcantes imagens em preto e branco. O ritmo é lento, mas completamente coerente com a proposta de contemplação e reflexão lançada pela dupla que assina a direção.
Contemplação, reflexão e o caráter marcante desses recortes da realidade congelados em preto e branco que são as fotografias de Sebastião Salgado. Esse tripé, facilmente aplicado ao documentário, deixa claro que O Sal da Terra foi produzido não só para prestar uma homenagem a seu personagem principal. A produção nasceu, também, para destacar tanto a função social da fotografia quanto o papel de impacto que a arte pode ter na sociedade.
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