How to Get Away with Murder chegou ao fim após seis (longas) temporadas. Com o episódio final exibido originalmente em maio deste ano, a série deixa como legado a sacramentação do gigantismo de Viola Davis, mas também um gosto meio amargo após 90 capítulos.
De um início promissor, em que Peter Nowalk unia de forma coesa o drama legal e um thriller extasiante, How to Get Away with Murder foi ao longos das temporadas se transformando em uma série surreal, em que nem toda suspensão da descrença e boa vontade conseguia torná-la mais aceitável.
Admito com resignação que Viola Davis sempre foi o motivo que me prendeu em cada um dos 15 episódios das seis temporadas. A magnífica atriz foi capaz de tirar leite de pedra, oferecendo ao público atuações ímpares mesmo com um roteiro frágil e um elenco de suporte não mais que mediano, emprestando sua própria credibilidade ao show.
Na reta final, Annalise Keating (Davis) encontrava-se em vias de ser presa pelos inúmeros crimes cometidos ao longo das temporadas, mas tendo como principal acusação um que não cometeu: a morte de seu marido.
Quase todo este último ano foi passado dentro do tribunal, alternando entre uma protagonista acuada e uma leoa rugindo, a marca principal da personagem. A questão é que HTGAWM pautou sua estrutura como semi-procedural, o que foi se perdendo ao longo dos anos, mas desapareceu por completo em 2019/2020.
Com personagens marcantes tendo deixado o seriado no transcorrer dos anos e a necessidade de terminar o programa, esta temporada final precisou ampliar o espaço de Frank (Charlie Weber), Nate (Billy Brown), Bonnie (Liza Weil) e Tegan (Amirah Vann). Porém, não deu liga.
Enquanto isso, personagens como Asher (Matt McGorry), Michaella (Aja Naomi King), Connor (Jack Falahee) e Gabriel (Rome Flynn) foram tão mal utilizados que seus passos pareciam escolhas mal feitas por um time de roteiristas que tinha pouco tempo e muitos problemas para resolver. Resultado: atuações fracas e soluções péssimas para suas histórias.
Um final melancólico
O final melancólico de How to Get Away with Murder entregou um resultado apressado para o caso do assassinato de Sam Keating, tendo que correr para fechar partes do enredo, enquanto deixava inúmeras pontas soltas.
Todo mundo que acompanha Rhimes sabe que esta é a principal característica de suas produções, mas, mesmo para seus padrões, How to Get Away with Murder parece ter extrapolado os limites.
Annalise foi uma meia-vilã por quem o público (quase) sempre torceu. Então, era de se imaginar que Nowalk procuraria dar à personagem um final redentor.
É bem evidente nesta temporada o dedo de Shonda Rhimes no encaminhamento da história de alguns personagens, já que a recorrência a cliffhangers (artifício de roteiro em que personagens são levados a situações limítrofes, como dilemas e revelações surpreendentes) foi marca registrada desta sexta e última temporada.
Todo mundo que acompanha Rhimes sabe que esta é a principal característica de suas produções, mas, mesmo para seus padrões, How to Get Away with Murder parece ter extrapolado os limites.
Não há como fugir na busca de explicações para uma série que minguou de quase 12 milhões de espectadores em média na primeira temporada para cerca de 5,5 milhões neste último ano sem refletir que, ao Peter Nowalk recorrer aos artifícios de sua mentora, HTGAWM foi se tornando desinteressante.
Se em programas como Grey’s Anatomy, a saída de personagens do primeiro escalão era um recurso muito utilizado para chacoalhar a trama, aqui isso tornou o show confuso, deixou pontas soltas e forçou uma temporada final com improváveis traições, amizades e reviravoltas.
De certo, o encerramento do seriado deixa um vazio na programação televisiva por não haver mais encontros com a magnífica Viola Davis, ao passo que também dá um respiro aos excessos da identidade Shonda Rhimes. A TV precisa desses fôlegos.