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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

Uma biblioteca sexy

porYuri Al'Hanati
26 de outubro de 2020
em Yuri Al'Hanati
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Uma biblioteca sexy, por Yuri Al'Hanati

Imagem: Pixbay.

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Acredito que já tive uma biblioteca sexy. Os livros são pequenos pesadelos para decoradores, quando a proposta é ter uma biblioteca de verdade, e não uma cenográfica. A decoradora japonesa popstar Marie Kondo, em todo o seu desprezo por nossas paixões, chegou a sugerir certa vez que mantivéssemos um máximo de trinta livros em casa. Poucos livros em uma casa só é possível quando, em primeiro lugar, o hábito de ler é algo que só acomete quando a culpa intelectual bate e, em segundo lugar, quando um gosto literário medíocre impera. Não existe quimera tal qual trinta bons livros juntos, o leitor pode puxar pela memória as casas com poucos livros que já visitou e constatar. Livros ruins podem andar em grupos de trinta, sem problemas, mas os bons só podem coexistir em legiões.

Em 2016, contratei um moveleiro para que transformasse a maior parede da minha casa em uma grande prateleira de livros. O que antes era uma zona se tornou um apartamento organizado, bonito, e com uma biblioteca que, mesmo numerosa, tinha muita personalidade e charme. Certa vez um amigo, solteiro e possuidor de uma grande biblioteca, disse que a cartada final em seu grande circo de conquistas femininas consistia em mostrar sua biblioteca. Quando os olhos se arregalavam e a boca pendia aberta diante das centenas de tomos coloridos, organizados e interessantes, ele sabia que, no campo da sedução, seu trabalho havia terminado. Acredito que tive uma estante como essa nos anos de 2016 e 2017. Uma biblioteca sexy, sedutora, organizada, com grande potencial fetichizante. Os russos ao meio, os ingleses à direita, os nacionais à esquerda, os americanos aqui e ali, uma seção especial aos asiáticos, enfim, praticamente o Brad Pitt de Clube da Luta em formato de estante. Uma estante definida, ninja, esbelta, porém encorpada.

Acredito que tive uma estante como essa nos anos de 2016 e 2017. Uma biblioteca sexy, sedutora, organizada, com grande potencial fetichizante. Os russos ao meio, os ingleses à direita, os nacionais à esquerda, os americanos aqui e ali, uma seção especial aos asiáticos, enfim, praticamente o Brad Pitt de Clube da Luta em formato de estante.

A partir de 2018, a coisa degringolou. Por causa do meu trabalho na área da literatura, dos livros que não param de chegar e de meu profundo apego a essas coisas, comecei a acumular livros em casa. Primeiro enfileirados diante do móvel da TV, depois no escritório, por cima dos livros da própria estante e, por último, no chão, em várias pequenas pilhas que deixei rente à coleção principal. Já não era mais uma biblioteca sexy e esbelta, era uma aberração grandiloquente. Inchada, um leitor desacostumado com minha biblioteca particular é capaz de se sentir sufocando ao olhar os livros sobrepostos, as pilhas mal feitas pelo chão, o horror vacui de uma parede que se esparrama por suas arestas sobre os outros metros quadrados da casa. Minha casa está se acabando em livros, e já não é mais o Brad Pitt das bibliotecas, é algo cuja beleza não apenas é altamente subjetiva como também é fruto de um distúrbio de imagem proporcionado por seu dono.

Minha estante agora é algo como um fisiculturista que exagerou nos anabolizantes e exibe suas bolhas de músculos, redondos e oleosos, com o orgulho de quem acredita ter chegado a um estado de excelência, mas que na verdade já está beirando o absurdo da estética. Um fisiculturista anabolizado e um apartamento pequeno com uma grande biblioteca, afinal de contas, sofrem do mesmo mal: querer crescer para além da capacidade, expandir o espaço ocupado no universo, almejar a qualidade sim, mas já completamente dominado pela primazia do mais.

Acredito que já tive uma biblioteca sexy. Hoje ela é um caminhão monstro, um combo super size do McDonald, uma Harley-Davidson Heritage chicana, um trambolho, um leviatã, um moinho de vento que assume a forma de qualquer coisa terrível que seja preciso enfrentar. Só não peça por arrependimento, muito menos para manter um máximo de trinta livros em casa. Minha biblioteca, esse grande trambolho, continua sendo o meu maior patrimônio, e isso decorador nenhum que tropece em minhas pilhas de livros será capaz de entender.

Tags: acúmuloBibliotecaBrad PittCrônicaestanteLivrosmarie kondominimalismo

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