Trocando em Miúdos: Antes de entrar para o panteão das grandes franquias de ação de Hollywood, O Exterminador do Futuro começou como um título de horror em 1984. Depois de um pesadelo, o diretor James Cameron idealizou a produção como um slasher movie em que o assassino com uma faca era substituído por um robô do futuro com armas.
James Cameron promovia o terrível, mas divertido, Piranha 2: Assassinas Voadoras (1981) quando teve o insight de O Exterminador do Futuro (1984). Ainda inexperiente, o cineasta foi assombrado enquanto dormia pela imagem de um crânio robótico metálico. O pesadelo rendeu o primeiro exemplar da franquia que retorna aos cinemas do Brasil a partir de amanhã, em O Exterminador do Futuro: Gênesis (2015).
Da concepção aos primeiros esboços do roteiro, a ideia de Cameron era criar uma obra de horror sobre uma criatura enviada de um futuro sombrio para matar a mãe do líder da resistência humana. Posteriormente, o artista chegou a comparar seu conceito original ao gênero de slasher movie, em voga na época por conta de títulos como Halloween (1978), Sexta-Feira 13 (1980) e Dia dos Namorados Macabro (1981).
Muitos desses elementos continuaram na produção, mas o tom da obra acabou se transformando em outra coisa com a presença de Arnold Schwarzenegger. O porte de halterofilista e a expressão sisuda do ator o deixou muito marcado para o imaginarmos a incorporação física do mal, como fazemos com facilidade quando nos referimos a Michael Myers.
“Olhar para o primeiro O Exterminador do Futuro é encontrar um filme bem diferente do que foi trabalhado nas sequências. Trata-se de uma obra de monstro clássico, com direito a mocinha indefesa e brutalidade gráfica.”
Muito mais próximo de um monstro está o personagem quando vira um esqueleto de metal cambaleante. Os efeitos visuais de Stan Winston, que mistura técnicas de animatrônica e stop motion na cena, conferem ao robô um aspecto ameaçador muito mais eficiente do que Schwarzenegger. Como o tempo muda tudo, nossa relação com o vilão também é alterada na recepção. Estamos muito mais habituados a ver o austríaco como mocinho na franquia O Exterminador do Futuro após o segundo e o terceiro filme.
Do núcleo humano da obra, o que mais gosto na produção é a metáfora cristã da narrativa. Ao ser enviado para proteger Sarah Connor (Linda Hamilton) do exterminador, Kyle Reese (Michael Biehn) funciona como uma espécie de mensageiro divino. Como profeta, consegue apenas risos e descrença de suas plateias. A única que o ouve é a personagem de Linda, uma jovem inocente que engravida uma concepção impossível.
É de Sarah a missão mais difícil: criar um filho que será o salvador da humanidade, redimindo-nos, novamente, do mal que nós mesmos criamos. Não parece ser por acaso que as iniciais de John Connor são as mesmas do messias do cristianismo, aquele que morreu pelos nossos pecados e nasceu da Virgem Maria. Estava tudo escrito.