A personagem-título de A Vida Secreta de Zoe (2014) tem uma família bem estruturada, com dois filhos educados, uma mãe presente e um marido amigo, compreensível, fiel, calmo, trabalhador, colaborador nas tarefas da casa, bom pai. Aos poucos, no entanto, Zoe (Sharon Leal) sente necessidade de coisas novas. O cotidiano – mesmo que ideal para muitos e desejável por muitos – já não é mais capaz de estimular uma única excitação.
Ela então parte em busca dessa excitação no corpo de outros homens. Sim, no corpo, porque não existe outra intenção da protagonista a não ser a relação casual, o prazer momentâneo, sem qualquer estabelecimento de vínculo mais profundo. Ao mesmo tempo em que se sente altamente estimulada pelo que experimenta, Zoe também desenvolve uma culpa profunda por trair não só o marido Jason (Boris Kodjoe), mas toda a vida que tinha até então, facilmente considerada perfeita por muitos. Paralelamente a isso, sua carreira profissional começa a enfrentar percalços, com o risco de falência da empresa de agenciamento de artistas plásticos que ela mesma fundou.
Todo o filme, no entanto, está distante de ser uma obra memorável. Tem diálogos superficiais, situações que mergulham no clichê, conflitos previsíveis e pouco chamativos, bem como praticamente nenhuma complexidade na abordagem do assunto importante que se propõe tratar.
O filme, dirigido por Bille Woodruff, já inicia com Zoe buscando auxílio com uma terapeuta. Somente aos poucos é que o espectador descobre, minuto a minuto, como foi a sua trajetória, marcada por prazeres, mas, também, dores e arrependimentos. Em mais de uma ocasião a câmera focaliza (não muito discretamente, buscando deixar bem claro que o espectador precisa notar) uma cicatriz física. O segredo de sua origem alimenta a suspeita de que se trata simbolicamente da materialização de uma cicatriz psicológica.
Ao mesmo tempo em que investe bastante no erotismo, o roteiro parece querer deixar como legado um alerta para que quem enfrenta o problema vivido pela protagonista busque ajuda. O título original do filme, inclusive, é Addicted, ou seja, “viciada”. A produção é uma adaptação do livro Addicted: A Novel, de autoria de Zane e publicada em 1998, nos Estados Unidos.
Todo o filme, no entanto, está distante de ser uma obra memorável. Tem diálogos superficiais, situações que mergulham no clichê, conflitos previsíveis e pouco chamativos, bem como praticamente nenhuma complexidade na abordagem do assunto importante que se propõe tratar.
A Vida Secreta de Zoe oscila entre o chamariz comercial de sua carga erótica com o alerta de que quem é viciado em sexo deve buscar apoio. Como produção cinematográfica a ser chamada de arte é bastante questionável e digna de reprovação. Extremamente fraca, enfim. Como prestação de serviço, pode ganhar alguns pontos.