Odia 17 de janeiro de 2022 pode ser um marco na televisão aberta brasileira. Isto porque, nesta segunda-feira, houve uma estreia importante em vários sentidos para a história das emissoras. Falo, é claro, do retorno do apresentador Fausto Silva à Band, a primeira emissora que acolheu esse “monumento” televisivo enquanto ele ainda era um repórter de rádio. As décadas seguintes, nas quais o mito em torno de Faustão se construiria, já são bastante conhecidas.
A estreia deFaustão na Band é relevante em vários aspectos. O primeiro que destaco é que ela acrescenta um novo capítulo a uma novela televisiva que começou a se desdobrar no início de 2021, com a notícia de que Fausto Silva encerraria seu contrato com a Globo ao fim daquele ano. Mas várias coisas aconteceram no meio do caminho, culminando na saída do apresentador da emissora meio de supetão, sem direito a uma despedida de seu público.
No resto do ano, as especulações e o noticiário bombaram, tentando desvendar o que seria deste apresentador icônico, que conseguiu um feito admirável: ao longo de décadas, reconfigurou-se de apresentador subversivo para aquilo que havia de mais pasteurizado e raso na televisão, para por fim tornar-se cult, um sujeito querido (de forma semi irônica, talvez?) por boa parte da audiência que permanece nas emissoras abertas.
Faustão na Band, portanto, bebe bastante na ideia de familiaridade que é tão importante quando se pensa em TV.
Faustão na Band, portanto, bebe bastante na ideia de familiaridade que é tão importante quando se pensa em TV. Há pelo menos 3 gerações que se acostumaram em ver Fausto e suas atrações no domingo – por isso, pensar numa televisão sem ele dá uma forte sensação de desconforto, e mesmo de abandono.
A Band, oportunamente, organizou um programa que é o próprio Domingão do Faustão, mas em outra emissora. Tem o mesmo Fausto mezzo alegre mezzo sacudo; as interações divertidas com os seus apresentadores de apoio (Anne Lottermann e João Guilherme, filho de Fausto); o balé sorridente e suas costumeiras assistentes de palco vistosas; a trilha sonora habitual, com a música do grupo Fundo de Quintal; e até as videocassetadas deram as caras.
Faustão enquanto formato
A verdade é que Fausto Silva já é um apresentador que define um formato. Tal como Hebe Camargo e seus encontros no sofá, Goulart de Andrade e seu jornalismo da noite, Ana Maria Braga e a intimidade de seu café da manhã, Faustão é o mestre dos programas de auditório com tom algo debochado e comentários meio sarcásticos.
Tudo permanece o mesmo, para a nossa alegria – ou, pelo menos, para nosso alívio. Mas talvez o grande trunfo de Faustão na Band esteja nas entrelinhas: sendo Fausto Silva uma figura televisiva que conquistou tudo, ele tem agora a chance de se reconectar às suas origens. Arriscaria dizer: tal como um filho pródigo, ele retorna à Band do Perdidos na Noite, programa caótico que fez seu talento despontar.
Ele agora não tem mais a máquina trituradora dos concorrentes da Globo, mas tem o seu legado. Esse é o capital que Faustão carrega para a Band: o seu nome e o seu mito, que o consolidou como figura carismática, cercado de histórias de bastidores sobre a sua generosidade e sobre como todos gostam dele.
A estreia, aliás, já trouxe o gostinho de que será uma disputa bonita: Fausto promete levar até a Band artistas de primeiro escalão que costumam ficar restritos à Globo. Na segunda-feira, recebeu Zeca Pagodinho, Alexandre Pires e Seu Jorge. Na sequência, deve receber Antonio Fagundes, uma das grandes estrelas da Globo.
Se a TV aberta está em crise e parece ter pouca relevância na vida das pessoas, especialmente dos mais jovens, a estreia do Faustão na Band oxigena esse cenário e traz vontade de acompanhar os próximos desdobramentos dessa história. Todo o sucesso ao grande Fausto Silva.
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