Agora em maio, finalmente adentramos no universo paralelo que mais esperávamos após o fim do BBB 21. Falo, é claro, do Power Couple Brasil 5, o reality show da Record, que todos os anos funda, por alguns meses, um território específico da TV trash que os espectadores amam habitar. É um lugar em que muitas coisas são permitidas, tanto para os participantes (que negociam sua privacidade em troca de uma fama fundamentada em algum deboche) quanto para o público (que se regozija em ver esses casais se queimando em rede nacional).
Em 2020, por conta da pandemia, fomos privados desse pequeno prazer. Por isso, a expectativa para 2021 era alta – afinal, BBB 21 foi um sucesso, o que gerou ainda mais desejo por habitar nesse “power coupleverso”. Além disso, o apresentador Gugu Liberato faleceu em um acidente trágico em sua casa em 2019, e por isso foi preciso encontrar um novo host. O papel ficou a cargo de Adriane Galisteu – apresentadora (o que já quebra um paradigma nos realities), na minha visão, pouco valorizada pelas emissoras nas suas últimas empreitadas.
A julgar pelas três semanas de Power Couple 5, nossas expectativas não foram frustradas. Como sabemos, o segredo dos reality shows de convivência está, em boa parte, na montagem do elenco, o que é sempre um tiro no escuro. No caso de Power Couple, em que os participantes são casais, há um desafio a mais – é preciso encontrar duplas com química (o que não significa, nesse contexto, se dar bem) entre si e que estejam dispostos a criar contendas com outros casais.
No caso de Power Couple, em que os participantes são casais, há um desafio a mais – é preciso encontrar duplas com química.
Power Couple 5 tem um espacinho todo especial no cardápio de quem curte a TV trash justamente porque é assumidamente trash. Os participantes escolhidos são, em maioria, desconhecidos do grande público – o que significa que foram especialmente configurados para ficar famosos nesse universo particular do programa.
O elenco da temporada 5 é bastante diverso: temos ex-participantes de reality shows da Record (MC Mirella, Li Martins, JP Mantovani), vários youtubers e funkeiros (Medrado, Jonathan da Nova Geração, Yurley, DJ Cleytão), sertanejos (Thiago), ex-participante do De férias com o ex (Mirela Janis), esportistas (Daniele Hipólito), músicos de forró (Rod Bala e Márcia Felippe) e pagodeiros (Pimpolho e Felipe Duarte).
Esteticamente, todos têm coisas em comum: as mulheres, especialmente, passaram por intervenções estéticas visíveis (o rosto de Deborah Albuquerque chama muito a atenção nesse aspecto) e quase todos usam aquelas evidentes lentes de contato que desfiguram os dentes originais.
O caldo estabelecido por esse elenco desconhecido deu liga e contabiliza altos pontos no “entretenimentômetro”, usando a expressão do canal O Brasil que Deu Certo. É provável que isso se dê exatamente porque esse elenco tem pouco a perder – ou, melhor dizendo, a fama que esses participantes almejam é o de justamente ficar famoso como um ex-Power Couple. Como suas ambições não parecem ser mais elevadas que isso que já estão fazendo, eles tendem a dar tudo o que têm e expor-se de uma forma que, por exemplo, o elenco “Camarote” do BBB jamais faria.
É por isso que as três primeiras semanas de Power Couple 5 já contabilizaram uma série de barracos memoráveis e de bordões que seguem sendo repetidos nas redes sociais – como Marcia Felippe gritando para Mirella mandar um PIX, ou Medrado apelidando Deborah Albuquerque como “Barbie falsificada na caixa” e seu marido Bruno de “Ken Humano”.
Este casal – que se autodenomina “Fênix” – é uma atração à parte no entretenimentômetro. Ambos parecem perfeitamente configurados para atuar como vilões de filme da Disney: são exagerados, seus traços físicos são falsos, sua personalidade é odiosa. Não por acaso, conseguiram angariar a antipatia de todos os demais participantes. Em prol de nossa diversão, é de se esperar que avancem muito no jogo.
Para finalizar, vale a pena anotar aqui a boa performance da apresentadora Adriane Galisteu, que parece entregue à tarefa de apresentar o Power Couple. Tal como Marcos Mion, Adriane explicita um certo prazer debochado de quem encara o trabalho com muita seriedade, ao mesmo tempo que sabe que tudo se trata de uma grande brincadeira. Ou seja, é alguém que “joga o jogo”, e não parece se sentir diminuída pela empreitada – diferente, por exemplo, do antigo apresentador Roberto Justus (que, aliás, é ex-marido de Adriane).
Por sorte, teremos mais umas boas semanas para habitar no universo Power Couple e, pelo menos por algumas horas, teremos a chance de nos entreter e esquecer os problemas do mundo lá fora. Que sigam os jogos, e que mais barracos sigam acontecendo.