Em um ano repleto de dificuldades, a Hollywood Foreign Press Association (HFPA), instituição responsável pelo Globo de Ouro, tenta se reerguer. Desde a divulgação de reportagem do jornal Los Angeles Times, publicada em fevereiro deste ano, a premiação vem se tornando alvo de denúncias e críticas, ao ponto de sofrer um grande boicote por parte da indústria de entretenimento.
Ainda que não tenha reverberado tanto na edição deste ano, a reportagem sacudiu as estruturas da associação ao mostrar que, até a data de sua divulgação, ela não continha nenhum membro negro, além de apontar que os comitês do prêmio fariam parte de um esquema de troca de favores, no qual eleitores aceitariam dinheiro, viagens e presentes em troca de indicações ao Globo de Ouro.
Apesar de negar veementemente as acusações, a HFPA decidiu implementar mudanças em sua estrutura, visando contornar possíveis impactos da reportagem do Los Angeles Times. Além de 21 novos membros, incluindo jornalistas negros, anunciaram que seria contratado um profissional para um novo setor de diversidade. Entretanto, as medidas foram vistas como insuficientes por parte de setores do cinema e da TV.
Na esteira veio um boicote de celebridades, da NBC (emissora que historicamente transmite a cerimônia de entrega) e do segmento publicitário, que tem orientado seus clientes a não associarem suas marcas à premiação. Ainda sem parceiros, a HFPA manteve a data de entrega dos prêmios, 9 de janeiro, e divulgou ontem, 13, a lista completa de nomeações.
O principal sinal de alerta para um possível caminho à irrelevância do evento no calendário anual de premiações é a Critics Choice Association ter anunciado que a entrega de seu prêmio acontecerá na mesma data do Globo de Ouro. Esse tipo de conflito de datas seria inimaginável um ano atrás.
Sem TV, evento recorre ao YouTube
Além de 21 novos membros, incluindo jornalistas negros, anunciaram que seria contratado um profissional para um novo setor de diversidade. Entretanto, as medidas foram vistas como insuficientes por parte de setores do cinema e da TV.
Exibida no YouTube da organização, a cerimônia de divulgação das indicações contou com cerca de 10 mil espectadores durante o período ao vivo. Helen Hoehne, presidente da HFPA, fez questão de mencionar sobre as mudanças que a instituição têm aplicado em sua estrutura. De surpresa, Hoehne convidou o rapper Snoop Dogg para ser o mestre de cerimônia de apresentação das indicações.
De óculos escuros e diante de um teleprompter, Snoop Dogg parecia uma metralhadora anunciando os indicados, o que tornou confusa a compreensão dos nomes por ele proferidos. O artista parecia pouco confortável por estar ali, deslocado, deixando no ar a sensação de que a HFPA queria demonstrar sua nova imagem, mas que teve dificuldades em encontrar artistas mais alinhados com o prêmio dispostos a serem o rosto do “novo” Globo de Ouro.
Indicações tentam passar recado de maior diversidade
Tradicionalmente lideradas por indicações para homens brancos, melhor direção e melhor ator em filme – drama vivem um novo cenário para 2022. Ao menos é o que aponta a lista de indicados.
Maggie Gyllenhaal, em seu primeiro trabalho com direção no cinema, recebeu indicação por A Filha Perdida, adaptação cinematográfica da obra de Elena Ferrante. Assim, tornou-se apenas a nona mulher a ser nomeada à categoria de melhor direção. Junto com ela está Jane Campion, em sua segunda passagem na categoria (indicada por O Piano, em 1993). Já a disputa por melhor ator em filme – drama reúne, entre os cinco concorrentes, Mahershala Ali, Will Smith e Denzel Washington.
Reportagem da Business Insider apontou que os votos podem ter sido afetados pelo pedido de cineastas e estúdios para que seus filmes não fossem considerados, ou que o fossem apenas para categorias específicas, sem contar a mínima campanha por nomeações. Essas alegações colocam em xeque o discurso da instituição, na pessoa de sua presidente, de que sua estrutura e seus processos tenha sido reformulados.
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