O longa-metragem Entre Irmãs é um daqueles filmes do qual se sai com um incômodo aperto no peito. Você o assiste disposto a gostar, mas, a despeito de algumas inegáveis qualidades, o que parecia muito promissor revela-se, ao longo da narrativa, um tanto frustrante. Talvez porque o ponto de partida da trama instiga, e ainda é raro encontrar na cinematografia brasileira obras construídas em torno de protagonistas femininas fortes.
O longa conta a história de duas irmãs, a destemida Luzia (Nanda Costa) e a romântica Emília (Marjorie Estiano). Elas crescem em Taquaritinga do Norte, no sertão de Pernambuco, e, mesmo tendo personalidades quase opostas, são complementares e, à sua maneira, unidas. Mas o destino se encarrega de separá-las. Luzia é sequestrada por um bando de cangaceiros e, de refém, se transforma em uma das líderes do grupo. Já Emília casa-se com o único filho de uma rica família de Recife, mas, aos poucos, se dá conta de que seu príncipe encantado esconde um segredo e seu sonho se desmancha no ar.
O diretor do filme, Breno Silveira (de 2 Filhos de Francisco e Gonzaga: De Pai pra Filho) reafirma em Entre Irmãs seu gosto por sagas melodramáticas e emocionais, o que não é um problema em si, mas talvez seja o principal problema deste seu nova longa-metragem. O tom mais intimista e dramaticamente convincente do primeiro ato do filme, que se estende até o separação das duas irmãs, se perde na tentativa do confuso roteiro de Patrícia Andrade, que tenta criar sucessivos, e quase sempre muito forçados, paralelismos entre os caminhos percorridos pelas personagens.
Adaptação do romance A Costureira e o Cangaceiro, de Frances de Pontes Peebles, Entre Irmãs erra por não optar pelo caminho do intimismo, do menos, e buscar uma desnecessária grandiloquência épica, que quase desperdiça o maior trunfo do filme: as excelentes atuações de Nada Costa e Marjorie Estiano, duas das melhores atrizes de sua geração no país. São elas que, bravamente, sustentam o interesse do espectador até os créditos finais.
Adaptação do romance A Costureira e o Cangaceiro, de Frances de Pontes Peebles, Entre Irmãs erra por não optar pelo caminho do intimismo.
Se fosse uma minissérie de tevê, formatado em capítulos, Entre Irmãs talvez funcionasse melhor, mas, como longa-metragem, a obra se perde, sobretudo porque atira em várias direções sem se aprofundar em quase nada ao longo de suas desnecessárias 2 horas e 40 minutos. Entre os temas abordados estão o cangaço, retratado como força de resistência à ditadura de Vargas; empoderamento feminino, personificado pelas protagonistas; e homossexualidade, tratada com dignidade, mas de forma um tanto superficial e folhetinesca.
A bela reconstituição de época, ancorada pela cuidadosa direção de arte de Claudio Amaral Peixoto, faz de Entre Irmãs um filme vistoso, mas muito maior em dimensões do que deveria ser. O que dele fica, ao fim e ao cabo, são os desempenhos de Nanda e Marjorie, e a bonita história de Luzia e Emília que Entre Irmãs poderia ter sido.
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