Histórias reais são prato cheio para o cinema. Adaptar acontecimentos, sejam de âmbito mundial ou estritamente regionais, costuma servir como um catalisador de bilheterias. Isso se torna maior ainda quando falamos de histórias de superação que se enquadrem de maneira mais universal, como uma doença ou um acidente. Talvez isso tenha sido a razão que fez com que a história dos mineradores presos em uma mina em Capiapó, no Chile, fosse levada às telas do cinema de forma tão expressa.
Sem muito tempo para maturar a história – afinal, há nestes dramas reais uma carga acrescida de memória criada pelo tempo, fazendo com que os relatos ganhem recortes que nunca saberemos ao certo se eram ou não reais -, Os 33, longa-metragem que estreia hoje nos cinemas brasileiros, carrega uma densidade dramática em seu roteiro que parece superar os fatos reais. Exagerando na dose de melodrama, o filme apresenta uma versão sobre o que aconteceu durante os 69 dias que os mineradores ficaram soterrados.
A trama de Os 33 centra-se em quatro principais personagens. Mario Sepúlveda (um caricato Antonio Banderas), que, após o desmoronamento que lacrou entrada e saída da mina, passa a liderar os mineradores, conduzindo o racionamento de água e comida e servindo como um motivador; Laurence Golborne (um limitado Rodrigo Santoro), Ministro da Energia do Chile, principal personagem político durante as buscas por formas de resgate, articulador dentro do governo para que elas não fossem interrompidas; Maria Segovia (a subaproveitada Juliette Binoche), esposa do minerador Dario Segovia (um apagado Juan Pablo Raba, de Narcos) e, ao menos em Os 33, a principal interessada em articular um movimento popular de auxílio e vigília durante as buscas; e André Sougarret (Gabriel Byrne, outro subaproveitado), engenheiro-chefe contratado pelo governo chileno para conduzir os procedimentos de resgate do mineiros.
Os 33 narra a história de 32 mineradores chilenos e 1 boliviano que ficaram soterrados na mina San José, na cidade de Capiapó, região norte do Chile.
Para quem não se recorda, Os 33 narra a história de 32 mineradores chilenos e um boliviano que ficaram soterrados na mina San José, na cidade de Capiapó, região norte do Chile. De propriedade da mineradora Empresa Minera San Esteban, ela é uma fonte de ouro e cobre. Conhecida pelos constantes desabamentos, esta mina costumava pagar seus funcionários acima da média salarial, como forma de compensar sua má reputação. Após o acidente, ocorrido no dia 5 de agosto de 2010, o governo chileno conduziu uma operação de resgate que envolveu profissionais e maquinários de vários países, inclusive do Brasil. Os esforços foram liderados pelo Ministro da Energia, Laurence Golborne, e pelo engenheiro-chefe, André Sougarret.
A diretora mexicana Patricia Riggern conduz o longa de forma que, em muitos momentos, se aproxima de um comercial de TV ou mesmo um programa político. Boa parte de seus enquadramentos foca expressões e gestos dos atores, como querendo agregar uma maior dose dramática, o que acaba justamente por prejudicar o filme. O enredo por si só já seria tocante o suficiente, e aborda uma história de superação, logo, suas decisões acabam não sendo das mais acertadas.
Contudo, é importante citar que o filme possui uma boa direção de arte e fotografia. Como boa parte das tomadas acontecem nas profundezas da mina, a baixa iluminação constrói um ambiente sufocante e angustiante, transmitindo parte das sensações que os trinta e três mineradores sentiram ao longo dos 69 dias. O recurso das ilusões, apesar de exageradas, possui sentido lógico quando sabemos que a baixa taxa de oxigênio é capaz de gerar alucinações. Ao final, Os 33 é um filme que cairia muito bem numa Sessão da Tarde.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.