O longa Spotlight: Segredos Revelados (2015), dirigido por Tom McCarthy, é um filme convencional. Tem começo, meio e fim bem definidos e nenhum recurso técnico marcante. Mas a importância social de seu tema é inegável. E isso importa para tê-lo tornado um forte concorrente ao Oscar 2016, além de, certamente, ter colaborado para efetivamente colocá-lo como ganhador do prêmio de melhor filme naquele ano. Desde o dia 1º de janeiro de 2019, a produção está disponível na lista de atrações da Netflix.
O nome (“holofote”, em inglês) refere-se à equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe que publicou, em 2002, uma série de reportagens sobre abusos sexuais de padres contra menores em Boston. O trabalho culminou em denúncias dirigidas a clérigos em várias partes do mundo. A investigação foi realizada pelos repórteres Robby Robinson (Michael Keaton), Sasha Pfeiffer (Rachel McAdams), Matt Carroll (Brian d’Arcy James) e Mike Rezendes (Mark Ruffalo).
O roteiro de Josh Singer e do próprio McCarthy equilibra a sobriedade exigida pelo assunto com a adrenalina que o árduo trabalho de uma respeitável reportagem investigativa requer. Durante quase duas horas, é possível ver várias situações pelas quais passam os profissionais de imprensa até alcançarem o resultado que os leitores puderam conferir.
São muitos os detalhes do trabalho investigativo. Em uma das cenas, por exemplo, a repórter esclarece para o entrevistado a importância da “clareza na linguagem” das respostas.
São muitos os detalhes do trabalho investigativo. Em uma das cenas, por exemplo, a repórter esclarece para o entrevistado a importância da “clareza na linguagem” das respostas. Ou seja: o que efetivamente aconteceu precisa pautar-se nas palavras adequadas para evitar erros na posterior transmissão para o público. Outro momento mostra a indignação de uma das fontes com a demora na publicação. “Vocês (jornalistas) sempre fazem o que querem mesmo”, chega a dizer o denunciante. No entanto, há um contexto para essa espera e a repórter precisa contornar a situação.
Uma cena emblemática é a dos caminhões saindo para distribuir os jornais contendo o desfecho de meses e meses de trabalhosa apuração. Emblemática porque remete ao embate existente entre a transmissão “analógica” de informações por parte do impresso e aquela bem mais rápida proporcionada pelas vias virtuais. Enquanto a segunda mídia, no entanto, está fundamentada na rapidez nem sempre tão confiável, a primeira é convidada (e desafiada) a divulgar reportagens superiormente consistentes, o que acaba encarecendo o processo e tornando mais injusta a luta entre o tradicional e o moderno.
Spotlight: Segredos Revelados, enfim, é mais uma das obras nascidas para engrossar a lista básica de filmes indicados a estudantes de jornalismo. Claro: não só para eles.
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