Joe Dante recebeu o roteiro do filme Burying the Ex (2015) pouco depois da estreia de O Buraco (2009). A trama era baseada em um curta-metragem de mesmo nome escrito e dirigido por Alan Trezza. Foram alguns anos até que a dupla conseguisse financiamento para rodar a produção, lançada este ano em serviços de streaming e home video nos Estados Unidos após circular por alguns festivais.
Nunca é um bom indício para a indústria norte-americana quando um diretor do calibre de Dante não tem verba para filmar o que quiser. Da mesma geração de James Cameron, John Landis e Chris Columbus, o cineasta esteve por trás de várias das melhores produções de comédia de horror da história, como Piranha (1978), Grito de Horror (1981) e Gremlins (1982).
Burying the Ex, um filme sobre um jovem (Anton Yelchin) que precisa lidar com o retorno da ex-namorada (Ashley Greene) do mundo dos mortos, atraiu investidores após o sucesso de produtos culturais como Guerra Mundial Z (2013), The Walking Dead e Meu Namorado é um Zumbi (2013). O resultado está bem longe do hype recente provocado pelos mortos-vivos (leia mais).
Nunca é um bom indício para uma indústria de cinema como Hollywood que um diretor do calibre de Joe Dante não consiga financiamento para rodar o que quiser.
Filmado com orçamento de um especial de televisão em cerca de 20 dias (“ao melhor estilo de Roger Corman”, descreveu o diretor em uma entrevista), a obra é uma declaração de amor ao cinema de horror. O personagem de Yelchin trabalha em uma loja que vende objetos de Halloween (e tem como despedida padrão a frase: “vá para o inferno”). Obcecado por filmes de monstros, ele serve como um espelho do cineasta, ao referenciar diálogos e cenas de clássicos do gênero por toda a trama.
Quando o protagonista decide morar com a namorada, vivida por Greene, ela transforma a vida dele em um pesadelo masculino, ao redecorar o apartamento sem consultá-lo, isolá-lo dos amigos e surtar de ciúmes em público. Cansado, ele decide dar um fim ao relacionamento. Antes disso, ela é atropelada por um ônibus e morre com a promessa que os dois sempre estarão juntos.
Quando a ex deixa o túmulo para cobrar a dívida, o rapaz entra em desespero. Especialmente porque acabou de conhecer a garota dos seus sonhos, uma vendedora de sorvetes dona de um vasto repertório de referências de filmes de horror (Alexandra Daddario).
Os diálogos rápidos e reviravoltas amorosas, que caracterizam um subgênero conhecido lá fora como screwball comedy, gradativamente dividem espaço com o gore, que aparece na tela conforme o corpo e do rosto de Greene se deterioram. A atriz, aliás, é um dos grandes triunfos de Burying the Ex, como uma irritante e insegura mulher que não percebe que está em um namoro infeliz.
Como outras produções de Dante, o humor não é exatamente do tipo que provoca risadas. A ambientação é bem mais inocente do que o pretenso realismo construído pelos cineastas da geração found footage. Como O Buraco, título anterior do cineasta, trata-se de uma narrativa anacrônica, contida nos efeitos visuais e celebrada como um longa-metragem da Hollywood da década de 1980.
Alguns críticos disseram que Burying the Ex é uma obra menor na filmografia de Joe Dante, pois não é tão político quanto Meus Vizinhos são um Terror (1989), Matinee – Uma Sessão Muito Louca (1993) e Pequenos Guerreiros (1998). Pessoalmente, acho que menores são eles, que não sabem se divertir com esse pequeno filme de um grande diretor.