Algumas semanas depois de Godzilla (1954) estrear nos cinemas japoneses, o produtor executivo Iwao Mori decidiu investir no que parecia ser um dinheiro fácil: iria produzir rapidamente uma sequência daquele que já era um dos maiores sucessos de público no país. Em seis meses, chegaria às telas nipônicas Godzilla, o Monstro do Fogo (1955).
Como ocorreu duas décadas antes em O Filho de King Kong (1933), lançado oito meses depois do clássico da RKO, a pressa se tornou inimiga da perfeição. Sem o mesmo acabamento ou planejamento do original, o retorno do gigante radioativo pareceu um produto apressado, barato e repleto de imperfeições. Ishirô Honda, que comandou o original, estava ocupado em outra produção e passou o bastão da direção para Motoyoshi Oda.
O corpo a corpo entre os monstros se tornou o maior atrativo da franquia em uma tradição que se mantém viva ainda hoje.
O novo diretor se esforça com o material que tem em mãos, criando cenas inspiradas, mas o roteiro e a falta de recursos não ajudam. Na trama, um piloto vai parar numa ilha após um acidente e descobre que há um novo Godzilla vivendo no local (o primeiro morreu com a explosão do destruidor de oxigênio do Dr. Serizawa). Essa versão da criatura é mais magra e mais ágil, cortesia de uma fantasia mais leve que facilitava o trabalho de Haruo Nakajima, o ator por trás da roupa de borracha do lagartão.
Logo nas primeiras cenas e sem qualquer tipo de explicação (ou surpresa dos personagens humanos), Godzilla aparece lutando contra Anguirus, um dinossauro da espécie anquilossauro que simplesmente aparece vivo nos anos 1950. Essa primeira disputa de braço entre gigantes era a porta de entrada para a fórmula narrativa que seria repetida à exaustão no subgênero kaiju.
No livro Godzilla On My Mind: Fifty Years of the King of Monsters, o pesquisador William Tsutsui afirma que o gênero de luta-livre era muito popular entre os japoneses na década de 1950. Por alguma razão, os executivos da Toho acharam que as brigas de monstros eram a evolução natural da trágica metáfora sobre os perigos das bombas nucleares. Logo, o corpo a corpo se tornou o maior atrativo da franquia, criando uma tradição que se mantém viva ainda hoje.
Nos Estados Unidos, a sequência do clássico de 1954 foi fortemente editada e dublada em inglês para um lançamento em 1959. Na época, Godzilla hibernava no Japão sem muitas perspectivas de ganhar um novo capítulo em sua história. Talvez por isso a versão norte-americana da obra de Oda chegou ao ocidente com o título Gigantis – The Fire Monster.
Curiosamente, foi justamente com essa tradução que o longa-metragem estreou no Brasil, no início da década de 1960. O material de divulgação reconhecia que era um filme protagonizado por Godzilla, mas o título O Monstro do Fogo dava a impressão de ser uma obra inteiramente nova.