Há muitas aproximações entre o horror e o cinema catástrofe. Ambos lidam com o medo do incontrolável, ameaças ao status quo e situações que estão no limite entre o real e o fantástico. A maneira de atrair a atenção público também é semelhante, pois é no visual que o desastre, como o monstro, se consolida na tela.
No making off de Twister (1996), clássico de reprises na televisão fechada, o diretor Jan de Bont explica que buscava pensar os tornados da obra como criaturas com personalidade. Não por acaso, a personagem de Helen Hunt atua como uma espécie de Capitão Ahab no filme, perseguindo grandes tempestades como se fossem Moby Dick.
O longa-metragem de Bont evidencia essa aproximação com o horror em pelo menos uma cena. Lá pela metade do filme, os protagonistas se refugiam em um hotel, que fica ao lado de um cinema drive-in, que exibe O Iluminado (1980). Não demora para que a tela em que o clássico de Stanley Kubrick é exibido seja destruída para que a imagem de um insano Jack Nicholson se funda com a do tornado.
Como no horror, o cinema catástrofe geralmente tem como principal atrativo mostrar o sofrimento humano. O herói só está livre das provações quando sobem os créditos.
No livro Paisagens do Medo (Unesp), o escritor Yi-Fu Tuan afirma que a natureza sempre foi um espaço de medo. O desastre provocado por um terremoto, uma enchente ou uma nevasca é inevitável. A única saída de sociedades ancestrais era a religião, que personificava essas forças naturais na figura de divindades vingativas e rancorosas.
No cinema catástrofe, essa personificação é menos divina e muito mais monstruosa. Em Terremoto (1974), o personagem de Charlton Heston enfrenta os resultados de um desastroso abalo sísmico em Los Angeles o impedir de manter o sogro, a mulher e a amante a salvos. O acaso da trama opera como um vilão, amorfo e sem identidade que frequentemente é insultado como se fosse alguém de verdade.
As chamas seletivas de Inferno na Torre (1974), os compartimentos que se alagam a medida que os personagens avançam para o interior do navio em O Destino de Poseidon (1972) e a tempestade de Mar em Fúria (2000) são outros exemplos em que isso ocorre. Esses monstros naturais são sempre estranhos que irrompem sobre sonhos, expectativas e angústias do cotidiano de certos indivíduos (já que geralmente esses títulos acompanham grupos grandes de sobreviventes).
Como no horror, essas produções geralmente tem como principal atrativo mostrar o sofrimento humano. O herói só está livre das provações quando sobem os créditos. O espectador é uma testemunha, que experimenta o desastre sem precisa estar lá de verdade. Nesse sentido, o filme catástrofe é como um grande brinquedo em um parque de diversões.