Uma das frustrações mais frívolas da minha infância era abrir um Kinder Ovo e encontrar um quebra-cabeça. A expectativa de ganhar um brinquedo criativo, colecionável e surpreendente rapidamente desaparecia diante do jogo de pouco mais de 10 peças que vinha no produto. O brinde não era o que eu esperava, não oferecia um desafio intelectual adequado (por ser pequeno e fácil de resolver) e não tinha apelo estético algum depois de pronto. Ou seja, acabava tendo pouca serventia, destinado ao esquecimento.
Alguns filmes de horror parecem seguir um caminho semelhante, ao prometer uma obra cheia de criaturas ou cenas de violência e apresentar um debate superficialmente reflexivo. Esse parece ser o caso de Monstros (2010), que catapultou a carreira do estreante Gareth Edwards, do segundo remake americano de Godzilla (2014).
A produção, vendida como uma narrativa de seres colossais que caem na terra e promovem um rastro de destruição, usa a premissa batida para criar um melodrama sobre dois personagens que se apaixonam em uma jornada por uma das zonas infectadas pelos alienígenas. As bestas aparecem em apenas duas cenas, escondidas pela névoa e pela escuridão.
Olhando para o histórico do longa-metragem, a estratégia parece bem aproveitada, pois tudo foi feito com um orçamento minguado, mesclando não-atores à efeitos visuais feitos no computador pessoal de Edwards. Como filme de monstro, porém, o título deixa a desejar.
Monstros catapultou a carreira de Gareth Edwards, que depois foi dirigir o novo Godzilla. Originalmente, no entanto, as criaturas colossais aparecem apenas em apenas duas (e breves) cenas de seu longa-metragem de estreia.
O que parece ser construído pelo diretor é uma crítica política, ao situar a invasão das criaturas no México, onde as pessoas aprenderam a conviver com a constante ameaça das bestas. O que me incomoda é que o olhar para os latino-americanos é colonialista, colocando os dilemas regionais de lado para focar nas tensões do casal protagonista.
Monsters: Dark Continent (2014) é menos eficiente ainda como representante do gênero. A sequência, comandada por Tom Green nos trilhos do burburinho provocado pelo original, recebeu mais financiamento para os efeitos visuais, mas o enfoque ainda não são as criaturas. Ao invés de ser um filme de amor, agora temos um drama de guerra.
A trama mostra um futuro em que as zonas infectadas se espalharam pelo mundo e, no Oriente Médio, um grupo de soldados precisa conter a insurgência de células terroristas. Os monstros fazem uma figuração de luxo na história, que repete o olhar colonialista dos americanos sobre a região, agora com foco nos árabes.
Sem contar com qualquer personagem cativante, a sequência não chega nem a ser um passatempo adequado, visto que os dilemas centrais dos protagonistas são muito mal construídos. Como o primeiro filme, trata-se de um quebra-cabeças fácil demais para intrigar e que não oferece apelo visual, presentes em vários títulos deliciosamente pilantras do gênero.