Único participante brasileiro da mostra Competitiva de longas-metragens da 4ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, A Misteriosa Morte de Pérola é um filme peculiar. Tem evidentes traços do gênero horror, mas transcende seus limites, flertando com o drama psicológico e o surrealismo, que tornam a experiência de assisti-lo bem menos previsível.
Dirigido e estrelado pelo casal Guto Parente e Ticiana Augusto Lima, o filme tem como ponto de partida a chega da personagem-título à França, onde vai estudar História da Arte em uma pequena cidade do interior. Ela se instala em um apartamento, no andar de cima de um casarão, que apesar de antigo, nada tem de fantasmagórico em um primeiro momento.
Aos poucos, no entanto, Pérola mergulha em profunda solidão e é dominada por medos e paranoias que podem ter justificativas sobrenaturais.
Aos poucos, no entanto, Pérola mergulha em profunda solidão e é dominada por medos e paranoias que podem ter justificativas sobrenaturais, ou serem apenas sintomas de seu desequilíbrio emocional.
Há um espírito a sua espreita, que muito faz lembrar o espectro que assombra a narrativa de A Estrada Perdida, de David Lynch, filme com o qual também compartilha a opção por não fornecer explicações lógicas para o que se desenrola na trama, de apenas 68 minutos.
Também são perceptíveis ecos de outros dois diretores: o franco-polonês Roman Polanski, sobretudo de O Inquilino, e John Carpenter.
A opção de Ticiana e Guto é por estabelecer a atmosfera da trama por meio da cuidadosa direção de arte, que transforma o apartamento em uma espécie de célula claustrofóbica na qual Pérola aos poucos imerge, tomada pelo assombramento e pelo abandono existencial que dela tomam conta – ela aguarda a chegada de um namorado (Parente), que chega tarde demais e também mergulhará no alçapão psicoemocional do qual ela se torna vítima.
Os diretores, que têm um histórico de experiências com o cinema da horror, brincam o tempo todo com as convenções do gênero, mas deixam margem a dúvidas, uma vez que também trabalham com a chave do onírico, do delirante, o que torna a produção, gravada na França, bem mais instigante.
A escolha do VHS, como registro de uma possível dimensão fantasmagórica, pode parecer clichê, mas também estabelece uma ponte com A Estrada Perdida e a série Twin Peaks, dando ao longa um ar propositalmente retrô.
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