Em Cloudy Times (Arami Ullon; 2014), Arami Ullon, vive na Suíça há alguns anos. Sua mãe, que sofre de epilepsia e Parkinson, vive no Paraguai. A saúde de sua mãe tem se deteriorado, Arami precisa voltar para a casa da infância e enfrentar seu passado.
No filme Ela Volta na Quinta (André Novais Oliveira; 2014), Maria José e Norberto, casal que vive há 35 anos juntos, na cidade de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, sofrem uma crise conjugal, que afeta toda a família.
O primeiro filme é um documentário, que assemelha-se à forma narrativa ficcional. O segundo é uma ficção, que por muitas vezes parece um documentário. São filmes do cotidiano que narram fatos rotineiros dos personagens e remetem ao ideal “tudo é documentário, tudo é ficção”.
Filmes que contam histórias diferentes, países vizinhos, com suas peculiaridades, conflitos e experiências culturais diversas, trazem um ponto em comum: as relações entre pais e filhos. Filmes que retratam uma inversão de papéis, filhos preocupados com o futuro dos pais. Em Cloudy Times, a filha única precisa escolher entre abandonar a vida na Suíça para cuidar da mãe no Paraguai ou colocá-la em uma casa de repouso.
Em Ela Volta na Quinta, os filhos adultos percebem o relacionamento em ruínas dos pais e não sabem como lidar com a situação. Maria José tem problemas de saúde e o filho preocupa-se com a sua pressão. Pais que precisam ser olhados pelos filhos, pais que deveriam saber tudo, resolver tudo, estão perdidos, não sabem ou não podem mais tomar decisões.
Em ambos os filmes, a fotografia tem espaço diegético, e lembra o que foram. Lembranças que ecoam as incertezas de um futuro que não pode ser visto com a segurança das imagens congeladas no tempo do clique.
Narrativas de ritmos lentos, que compõem a mostra Outros Olhares do 4.º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, Cloudy Times e Ela Volta na Quinta, remetem ao passado, o primeiro com as lembranças da filha que guarda culpa e mágoa da infância; o segundo, com as fotografias iniciais que retratam, linearmente, o relacionamento de Maria José e Norberto até a infância dos filhos.
Em ambos os filmes, a fotografia tem espaço diegético, e lembra o que foram. Lembranças que ecoam as incertezas de um futuro que não pode ser visto com a segurança das imagens congeladas no tempo do clique.
Metáforas da fragilidade e imperfeição humana, todos são pais e também filhos, Maria José, narra as lembranças que tem do pai, Arami é chamada de Mama pela sua mãe, percebe-se que os laços são fortalecidos no movimento dos papéis familiares.
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