Se fossemos problematizar Girls, diríamos que é uma série sobre garotas jovens, brancas, de classe média, morando em bairros bacanas de Nova York, discutindo sobre a geração A, B, C, D, Y, Z, com problemas que não chegam nem perto do desesperador. Entretanto, Lena Dunham e seus roteiristas sabem o que estão fazendo. Tudo o que acontece na série é exagerado e até bobo, mas de forma esperta, tudo é também identificável. Como um espelho mostrando o melhor e o pior, o texto impacta não somente a tal geração Z, mas todos os jovens que ainda buscam uma identidade no meio de uma confusão de vozes. E tal como todas as personagens de Girls, ninguém está livre de ser egoísta, egocêntrico, cruel e um péssimo amigo. Ao mesmo tempo, todos estão quebrando a cara e amadurecendo a cada soco. A vida parece ser mais ou menos isso.
Dito isso, é com felicidade que Lena Dunham e sua turma conseguem encontrar a sintonia ideal de narrativa e desenvolvem complexidade a todas as quatro garotas, no que parece ser a melhor temporada da série. Embora seus primeiros episódios sejam mornos – parece mais uma sitcom tradicional do que uma série da HBO – a temporada vai encontrando seu tom. Ainda que as situações pareçam mais cômicas do que sérias, há profundidade em todos os arcos mostrados durante seus 10 episódios.
Ainda que as atitudes pareçam bastante imaturas, há um empoderamento em cada mulher, especialmente em Hannah.
A história começa com o estranho casamento de Marnie (Alissom William) e Desi (Ebon Moss-Bachrach). Enquanto Marnie tenta fazer sua cerimônia ficar igual aos casamentos lidos nos blogs, Hannah (Lena Dunham) não aprova a união dos dois e se comporta de forma mais egoísta e cruel possível. Após seu rompimento com Adam (Adam Dirver), Hannah agora namora o bacana e gentil Fran (Jake Lacy). Shoshanna (Zosia Mamet), que agora mora no Japão, continua cheia de energia e encantada com sua vida em Tóquio. Jessa (Jemima Kirke) parece determinada a fugir de problemas e se tornar uma pessoa centrada, mas um romance com Adam parece não facilitar muito as coisas. Já Ray (Alex Karpovsky) ainda é o fio condutor da coerência para todas as personagens.
A história principal da temporada talvez seja a relação Hannah-Fran-Jessa-Adam, embora o quarteto não se encontre muito durante a temporada. O novo namorado de Hannah parece um sério candidato a príncipe encantado, mas o comportamento dela começa a irritá-lo, assim como Hannah entende a paciência dele como julgamento. Nessa dinâmica, os dois entram em conflito quando Hannah se mostra cada vez mais egoísta, imatura e infantil e Fran parece julgador, autoritário e hipócrita. Já Jessa e Adam tentam fazer o romance dar certo, mas ele encontra uma resistência por parte de Jessa, que sente como se estivesse traindo Hannah, sua melhor amiga.
Mas o foco não fica apenas na relação de amor dos quatro personagens e isso é, de longe, o maior acerto. Se na quarta temporada (você pode ler a crítica aqui), o texto já mostrava um amadurecimento doloroso e um espaço maior na tela para todos, o quinto ano consegue um belo equilíbrio. Girls parou de ser sobre Hannah e se tornou, finalmente, uma série sobre todas as garotas. Assim, Marnie, uma personagem problemática que ganhava, cada vez mais, o ódio do público, teve um plot bastante dramático, que entregou o melhor episódio da temporada. Shoshanna, ainda que continue exagerada e um tanto quanto caricata, teve sua história no Japão contada de maneira eficiente. Ao ser demitida, Shosh entra na angústia e na velha conclusão de achar que podemos fugir dos nossos problemas apenas nos afastando deles e não os enfrentando. Quem brilhou também foi Elijah (Andrew Rannells), que deixou de ser apenas o alívio cômico e amigo gay de Hannah para ganhar uma história própria que, provavelmente, será determinante para o crescimento do personagem no próximo ano.
Girls sempre foi sobre os altos e baixos de um grupo de jovens entre os 20 e 30 anos, com alguns erros na narrativa durante suas quatro temporadas. Porém, o quinto ano é o mais diferente de todos. Todas continuam fazendo besterias homéricas, mas a forma com a qual elas lidam com isso é bastante diferente do que vimos anteriormente e o olhar feminista de Lena ajuda bastante nessa mudança. Ainda que as atitudes pareçam imaturas, há um empoderamento em cada mulher, especialmente em Hannah, que se liberta de forma emocionante no último episódio, que poderia facilmente encerrar a série definitivamente de forma brilhante. É o fechamento de um ciclo para a vida adulta, que provavelmente veremos no sexto e último ano da série.
O que falta para Girls, agora, é que todas as garotas se conectem novamente e tenham histórias integradas. Desde o quarto ano, a série vem mostrando uma maturidade bonita de se ver. A quinta temporada, então, é o ponto no qual ela deixa de falar sobre meninas e passa a falar sobre mulheres e a fazer todos os seus personagens crescerem. Os discursos se tornam mais interessantes e as discussões são feitas de forma mais sóbria, ainda que exageradas. Há coerência em cada fala.
O melhor de Girls é que, embora pareça engraçadinha e boba, consegue mostrar que a relação entre os personagens vai se tornando mais cruel, madura e interessante ao longo do tempo. Na quinta temporada, há cenas inspiradíssimas, como Hannah se libertando de Adam ou a briga catastrófica de Jessa e Adam. O texto jamais opta pelo sensacionalismo barato e ainda consegue emocionar. Como seus personagens, Girls está mais honesta do que nunca. Perceber essa evolução na narrativa é tudo o que um fã de uma série pode pedir. Que venha a sexta e última temporada.