Há quase dois anos, a equipe do filme coreano Parasita subia ao palco para receber o prêmio de melhor filme na cerimônia do Oscar 2020. O longa foi a primeira obra em língua estrangeira a ganhar a maior honraria do cinema.
Cortamos para setembro de 2021, na 76ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Os sete integrantes da boy band sul-coreana BTS não só fizeram a performance da música “Permission to Dance” diante dos maiores líderes do mundo, como também discursaram sobre o papel dos jovens em meio a pandemia.
No mesmo mês, a Coréia do Sul atacou novamente, desta vez pela Netflix, com a série Round 6. Segundo a própria plataforma de streaming, o seriado teve 142 milhões de visualizações nos primeiros 28 dias de lançamento, quebrando todos os recordes anteriores e tirando de Bridgerton o posto de série mais vista.
Round 6, conhecida internacionalmente como Squid Game, é escrita, dirigida e produzida por Hwang Dong-hyuk (diretor de Silenced) e acompanha 456 pessoas que participam de uma série de seis jogos para ganhar um prêmio de bilhões de wons. Mas, a sentença para os perdedores é a morte.
A Hallyu (‘onda coreana’) é também uma estratégia governamental que impera desde o século passado.
Mais do que os jogos, a série explora as dificuldades que os jogadores enfrentam no mundo exterior: a realidade desigual e cruel de saber que, do lado de fora, eles têm igual ou menos chances de sobreviver.
Mas, a pergunta que não quer calar é: de onde vem todo esse sucesso? É claro que muito talento e habilidade dos escritores, atores e de todos que participam nessa cadeia do entretenimento contam. Mas, a Hallyu (“onda coreana”) é também uma estratégia governamental que impera desde o século passado.
Na década de 1990, com o fim da ditadura militar e a recente abertura econômica do país, o então presidente sul-coreano Kim Young-Sam lançou uma nova política cultural. Seu objetivo era, principalmente, tornar a Coreia do Sul conhecida na comunidade internacional.
Desde aquela época, os doramas (ou dramas coreanos) são apoiados e financiados, em boa parte, pelo poder público e pelo setor privado. Só no ano passado, o governo sul-coreano investiu 1,69 trilhão de wons (R$ 7,64 bilhões) para a produção de conteúdo local e vendas globais.
A estratégia da Coréia do Sul é simples: criar soft power. Diferentemente do exercício de influência através do poder econômico ou bélico, o soft power é o exercício de poder e influência através da cultura e do entretenimento.
Os coreanos ganham visibilidade e uma indústria fortalecida e nós, obras brilhantes que quebram nossa visão ocidental. Aqui, cabe uma frase de Napoleão Bonaparte usada para descrever a China, mas que serve para o contexto atual da Coréia do Sul: “Deixe-a dormir pois, quando ela acordar, vai estremecer o mundo”.