Tanto para quem é fã declarado como para quem nunca viu um episódio de Veep, a explicação para o enorme sucesso e o culto por trás da série atende pelo nome de Julia Louis-Dreyfus. Mas na quinta temporada da série foi acrescentado um novo tempero no show: a ousadia de seus produtores.
Estávamos ainda distantes da corrida eleitoral dos Estados Unidos, a de verdade, vencida por Donald Trump, mas em Veep torcíamos (ou não) fervorosamente por Selina (Julia). Diferente da vida real, a eleição norte-americana que transcorreu na série não colocava em lados opostos uma democrata progressista e um republicano ultraconservador, então era muito fácil rir. E aqui há dois elementos catalisadores fundamentais: o roteiro afiado e desafiador para uma série de humor e um elenco fortíssimo.
Sobre os atores, é difícil apontar quem é o grande coadjuvante da série, ainda que Tony Hale (o Gary) já tenha vencido o Emmy duas vezes e sido indicado uma outra, Anna Chlumsky (a Amy) tenha sido indicada quatro vezes e Matt Walsh (o Mike) tenha sido indicado uma vez. A força é definitivamente do time, tanto que venceram como melhor elenco em série de comédia nos dois últimos Emmy Awards. Não é pouca coisa. Aliás, passa bem longe disso.
A quinta temporada de Veep não fica presa à corrida eleitoral, mas faz questão de usá-la para tratar (sempre de forma cômica) de assuntos urgentes.
O roteiro de cada temporada é prova cabal de quão destemidos são, evitando a manutenção de uma zona de conforto para piadas e personagens. Armando Iannucci e sua equipe de roteiristas frequentemente tiram um personagem de cena quando sentem que isso trará frescor à trama, ao passo que conferem a Timothy Simons, o Jonah Ryan, o status de estrela e contraponto cômico para a Selina de Julia.
A quinta temporada de Veep não fica presa à corrida eleitoral, mas faz questão de usá-la para tratar (sempre de forma cômica) de assuntos urgentes como machismo (a dificuldade que o personagem de Hugh Laurie tem em ser seu vice), a liberação sexual feminina (Selina sente-se incomodada em necessitar esconder seus relacionamentos) e o jogo sujo dos bastidores políticos. Essa versatilidade de temas dão liberdade criativa à equipe de roteiristas e permite que sejam ousados com os rumos da série.
Não se trata de fazer qualquer coisa por confiança de que o público irá receber bem. Na realidade, Veep tem apresentado alguns plot twists bem improváveis (ou há outra forma de encarar o fato dela ter virado presidente na quarta temporada?), mas que são visivelmente planejados e feitos com o máximo cuidado possível, evitando criar situações irreais, por exemplo.
Não é à toa que Julia Louis-Dreyfus venceu o Emmy nas cinco vezes que foi indicada, e será uma verdadeira surpresa (e injustiça) se finalmente não sair vencedora do Globo de Ouro por sua atuação neste ano. Definitivamente não há outra atriz capaz de ser tantas em uma única. Definitivamente não há outra personagem como Selina em atividade na tevê. Definitivamente é sempre uma angústia quando cada temporada acaba. Se ainda não viu a quinta temporada, faça isso agora!