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‘Alice Júnior’ é um belo filme sobre afetos

Leve e emocionante, 'Alice Júnior', premiado longa-metragem do diretor paranaense Gil Baroni, brinca com paradigmas do cinema adolescente para falar sobre transexualidade.

porPaulo Camargo
17 de setembro de 2020
em Cinema
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Alice Júnior, novo filme do paranaense Gil Baroni

A jovem atriz trans pernambucana Anne Celestino (primeira à esq.) brilha como a protagonista de 'Alice Júnior'. Imagem: Divulgação.

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A simplicidade pode ser muito subestimada no cinema. Filmes que não recorrem a estratégias mirabolantes de narrativa, ou a subtextos que exijam maior esforço dos espectadores, tendem a ser vistos como “menores” (assim mesmo entre aspas), mais palatáveis, talvez por resultarem menos desafiadores do ponto de vista da crítica. Dentro dessa lógica, o premiado Alice Júnior, novo longa-metragem do diretor paranaense Gil Baroni, seria, na superfície, uma obra corriqueira, quase descartável. Mas não é esse o caso aqui. Muito pelo contrário.

Em um roteiro que dialoga inteligentemente com paradigmas consagrados do cinema destinado ao público adolescente, a protagonista, Alice (vivida pela atriz pernambucana Anne Celestino), é uma garota como muitas. Passa parte significativa de seus dias na Internet, sofre por conta de um amor platônico e nunca deu um beijo na boca. Ela também enfrenta questões de autoestima, de aceitação da própria imagem e sofre bullying, problemas até certo recorrentes nesta faixa etária. A diferença está no fato de que essas dificuldades estão relacionadas à sua identidade de gênero: ela é trans.

Um dos traços que fazem de Alice Júnior um filme tão especial é que o bem-amarrado roteiro de Luiz Bertazzo e Adriel Nizer Silva e a direção de Baroni trabalham com a transexualidade, tema central do filme, de uma perspectiva não apenas humanista. Não se percebe um olhar exótico, que a superdimensione. A opção por uma (ótima) jovem atriz trans para viver o papel-título, nesse sentido, faz toda a diferença. Em momento algum da trama, mesmo naqueles em que Alice é vítima de preconceito e violência, ela é tratada como vítima.

A personagem transborda autoaceitação e empoderamento, o que em outro filme poderia soar falso, ou forçado, mas não em Alice Júnior. Essas características da personagem são explicadas, em grande parte, pela relação entre a protagonista e seu pai, Jean Genet (Emmanuel Rosset), uma homenagem explícita ao grande escritor francês, gay e marginal, que morreu em 1986, aos 76 anos.

Alice compartilha com o pai, além do seu nome de batismo, daí o Júnior, uma intensa cumplicidade. Jean não apenas a aceita como ela é – ele a enaltece, alimenta a sua autoestima. Como a mãe de Alice morreu, os dois formam um time e há entre eles uma espécie de pacto pela felicidade, o que não os livra de pequenos conflitos cotidianos inerentes à relação entre pai e filha adolescente, com seus altos e baixos.

A vida da família vai mudar radicalmente quando Jean, bioquímico da indústria da perfumaria, decide se transferir de Recife para o sul do Brasil por um tempo, com o objetivo de desenvolver uma nova fragrância a partir de pinhas. É crucial à trama essa mudança de uma grande metrópole do Nordeste para uma pequena cidade fictícia chamada Araucárias do Sul, supostamente no Paraná, que na história representa, simbolicamente, o que há de mais conservador, homofóbico e racista na sociedade brasileira. A transição para Alice será traumática. Ela sai de sua redoma de proteção direto para um ambiente hostil.

Baroni, recorrendo a um quase clichê narrativo dos filmes hollywoodianos para adolescentes, o do peixe fora d’água, nos faz refletir sobre como nossa sociedade pode ser retrograda em relação a minorias, em especial aos direitos trans: na escola que passa a frequentar em Araucárias do Sul, Alice é forçada a se vestir de menino já no primeiro dia de aula e lhe é negado o direito de usar o banheiro feminino. O estranhamento com sua presença e a rejeição ao que ela representa são evidentes.

Baroni, recorrendo a um quase clichê narrativo dos filmes hollywoodianos para adolescentes, o do peixe fora d’água, nos faz refletir sobre como nossa sociedade pode ser retrograda em relação a minorias.

Com um roteiro bem escrito nas mãos, Baroni consegue brincar com as fórmulas narrativas da comédia adolescente, não as rejeitando, e sim as subvertendo sutilmente, para acomodar de forma orgânica uma personagem fora da curva como Alice. A crueldade da qual ela é vítima, por mais que seja até certo ponto previsível, choca, revolta, porque o filme consegue nos fazer empatizar com a protagonista, uma personagem tridimensional, complexa e nada passiva diante das circunstâncias. Ela sofre, porém reage.

Outro ponto positivo do filme é a recusa do maniqueísmo, bastante tentador em alguns pontos da narrativa. Araucárias do Sul, que no início parece ter espaço apenas para a intolerância, aos poucos se revela também diversa, plural. Há, na cidade, espaço para a aceitação e Alice e Jean, eventualmente, encontram afetos verdadeiros, talvez a discussão mais profunda e tocante levantada pelo longa. É claro que há em Alice Júnior um certo tom fabular, de conto de fadas contemporâneo, no qual o bem triunfa sobre o mal, mas isso não o enfraquece ou banaliza, justamente porque o roteiro tem noção das tradições e convenções do gênero, para nelas operar do lado de dentro, as TRANSformando.

Alice Júnior já está disponível no YouTube e outras plataformas VOD de streaming.

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Tags: Adriel Nizer SilvaAlice JúniorAnne CelestinoCinemaCinema BrasileiroCinema ParanaenseCrítica Cinematográficaem cartazFilm ReviewGil BaroniLuiz BertazzoMovie ReviewResenhaTransexualidade

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