Aprodução cinematográfica de Hong Kong, colônia britânica até 1997, e em transição há 25 anos em seu retorno ao domínio chinês, sempre teve como principal característica a sua vocação para o entretenimento das massas.
Nos anos 1950, estúdios de pequeno e médio porte produziam entre 150 e 170 filmes por ano em gêneros populares e falados em dialeto cantonês (idioma local), como o melodrama familiar e os filmes de espada (wu xia) e de artes marciais (kung fu), derivados da literatura popular.
Na década seguinte, foi a vez das comédias, musicais urbanos e épicos de espada e artes marciais com diálogos em mandarin (língua oficial da China), mais violentos e modernos, principalmente no tocante à montagem, influenciada pela nouvelle vague francesa.
Nessa época surge o estúdio Shaw Brothers, responsável por grandes sucessos. Entre eles, a chamada Inn Trilogy, do diretor King Hu: Come Drink with Me (1966), Dragon Inn (1967) e The Fate of Lee Khan (1973).
Importado dos Estados Unidos, o lutador sino-americano Bruce Lee tornou-se um astro de dimensões planetárias nos anos 70 em filmes de luta. Sua carreira foi abreviada pela morte prematura em 1973, aos 33 anos anos, decorrente de um edema cerebral.
John Woo
Mas seria graças a diretores com traços autorais, como John Woo, cujos filmes de ação se tornaram objeto de culto nos anos 1980 e 90, e Wong Kar-wai, que emergiu como um dos nomes mais proeminentes a partir da década de 1990, que o cinema de Hong Kong invade o Ocidente como “arte”.
A produção cinematográfica de Hong Kong sempre teve como principal característica a sua vocação para o entretenimento das massas.
Woo, idolatrado por Quentin TarantinoQuentin Tarantino, fã de filmes como The Killer e Bala na Cabeça, melodramas policiais, com espetaculares sequências de ação, coreografadas e com amplo uso de câmera lenta – emigra para Hollywood, onde faz sucessos como A Outra Face (com John Travolta e Nicolas Cage), hoje objeto de culto, e Missão Impossível 2, estrelado por Tom Cruise.
Arte
Kar-wai, por sua vez, vai na contramão do cinemão comercial e de entretenimento. É hoje o grande autor de Hong Kong.
Com formação em artes visuais, seus filmes têm um requinte plástico incomum. Cada quadro é minuciosamente construído, embotado de sentidos.
A parceria com o diretor de fotografia australiano Christopher Doyle resulta no impressionante uso de cores quentes, como o vermelho e o laranja, sempre em contraponto às sombras, ao negro e a tons mais frios, sobretudo o azul.
Essa manipulação cromática não se dá gratuitamente: está casada com os climas propostos pelas histórias, com o estado emocional dos personagens.
O tema central da filmografia de Kar Wai é o amor, seja ele irrealizado, adiado ou fracassado. Um de seus longas-metragens mais importante é Felizes Juntos (1997), vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes.
O filme narra a história de um casal de rapazes chineses, vividos por Tony Leung e Leslie Cheung, que deixam Hong Kong para trás e se mudam para Buenos Aires, na Argentina, em busca de um lugar onde possam ser felizes.
Outro importante título de sua filmografia é o magnífico Amor à Flor da Pele (2000), que ganhou o Grande Prêmio Técnic e deu a Leung o prêmio de melhor ator, também no festival francês.
O filme acompanha o envolvimento entre um escritor (Leung) e sua vizinha de pensão (Maggie Cheung), ambos casados, que suspeitam ser traídos pelos seus cônjuges, na Hong Kong da década de 1960. A tensão amorosa e sexual entre os dois transborda.
Em 2021, foi indicado ao Oscar de melhor filme internacional Better Days, dirigido por Derek Tsang, nome ascendente do cinema realizado na região.
O longa retrata a jornada de uma jovem estudante secundária, vítima dos piores abusos. Também é uma tocante história de amor e cumplicidade, que não abre não da estética de dobra, entre Ocidente e Oriente, made in Hong Kong.
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