O volume de produções originais Netflix vem aumentando exponencialmente. É natural. Com a concorrência de outras plataformas de streaming, e com estúdios gigantes como a Disney planejando reunir seu conteúdo com exclusividade em meios próprios, a empresa precisa garantir que seu catálogo continue atraente para os assinantes mesmo com as perdas de outras produções.
No entanto, muitos executivos do mercado, e mesmo espectadores, apontam que a megalomania da Netflix estaria afetando a excelência de seus filmes e séries. O famoso quantidade não é qualidade. Hoje não vamos entrar no mérito de analisar se isso se comprova com base nos últimos lançamentos da líder do streaming, seria improdutivo e questionável. Mas o que podemos fazer é perceber uma clara tendência de atingir a mina de ouro comercial do século 21: os adolescentes.
Ainda que a Netflix não divulgue números de audiência, recentemente o chefe de conteúdo original da empresa, Ted Sarantos, chegou a dizer em entrevistas que A Barraca do Beijo, uma comédia teen despretensiosa (e bem divertida, para falar a verdade) foi um dos filmes mais assistidos em sua semana de estreia da história da plataforma. Ele inclusive usou o número de avaliações no IMDb (Internet Movie Database) para “comprovar” o dado e sugerir que as pessoas confiram por lá quais são os seus .
Sim, é só um filme. Mas uma breve olhada na lista mensal de entrada no catálogo (de originais, sempre lembrando) vai mostrar que a proporção de comédias românticas vem crescendo em relação aos outros gêneros.
Faz todo o sentido. Comédias e romances em geral são filmes mais baratos e rápidos de fazer, além de serem quase que neutros no cinema, no sentido de terem baixa rejeição (ao contrário de nichos como o terror e a ficção científica, por exemplo, que atraem fãs fervorosos, mas podem afastar uma parcela do público médio).
Para quem tem pressa e necessidade de volume, como a Netflix demonstra precisar? Perfeitas. Com um elenco jovem e semi desconhecido? Melhor ainda. Não por acaso elas recebem um especial cuidado de divulgação, leia-se: aparecem insistentemente na sua home mesmo não estando nas suas sugestões.
Comédias e romances em geral são filmes mais baratos e rápidos de fazer, além de serem quase que neutros no cinema, no sentido de terem baixa rejeição.
Só um filme foi citado pelo sucesso fora da curva, mas os exemplos são muitos e quase mensais. Só em abril tivemos Doce Argumento e Dude – A Vida é Assim. Em maio, A Barraca do Beijo reinou sozinho entre os teens (sem contar outras comédias e romances mais adultos). O adorável Alex Strangelove chegou em junho junto de O Plano Imperfeito.
Agosto trouxe o pastelão O Pacote e o que parece ser – visto o número alto de buscas no Google sobre e matérias relacionadas – o mais novo hit: Para Todos os Garotos que Já Amei. Mês que vem estreia Sierra Burgess is a Loser, estrelado pela Barb de Stranger Things, a atriz Shannon Purser.
Ah! Menção honrosa para O Príncipe do Natal, que passou um tanto quanto batido no Brasil, mas foi um sucesso imenso nos Estados Unidos no final de 2017 e já uma sequência garantida.
Quem assistir com atenção vai perceber inclusive que alguns atores se revezam nesses títulos, mas deixo como easter egg, a quem se interessar, descobrir quais são.
Resumindo: parece existir uma tendência em direção às inofensivas comédias românticas e filmes voltados ao público adolescente. Parece que a estratégia está funcionando. Isso não quer dizer que esses filmes sejam ruins (alguns são efetivamente bons), mas ocupam um espaço grande de produções que poderiam ser mais inovadoras e/ou experimentais. Se o volume aumentar, eventualmente podem “baixar a régua” da qualidade média dos originais, sim.
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