Remakes costumam ser uma fria no cinema. Ainda mais se o filme original é bom o suficiente para ter permanecido na memória do público. Assim, quando foi anunciada a refilmagem de Bravura Indômita, faroeste de 1969 que deu o único – e um tanto tardio – Oscar de melhor ator a John Wayne (1907-1979), uma onda de ceticismo se ergueu no horizonte, a despeito do fato de se tratar de um projeto dos consagrados irmãos Ethan e Joel Coen.
Toda a desconfiança de que o tiro tenha saído pela culatra, no entanto, se dissipa em pouco mais de 20 minutos de projeção da versão da releitura de Bravura Indômita, de 2010. Embora a história não seja tão diferente da contada pelo filme de Henry Hathaway, há um elemento no longa dos Coen que o diferencia do original: a perspectiva feminina.
O filme começa com a narração em off de uma mulher adulta, que relata uma história vivida quando tinha 14 anos. Trata-se de Mattie Ross (Hailee Steinfeld, que foi indicada ao Oscar e hoje uma estrela pop de sucesso), uma adolescente cujo pai foi assassinado por um bandoleiro chamado Tom Chaney (Josh Brolin, de Onde os Fracos Não Têm Vez), que fugiu para uma reserva indígena depois do crime.
O filme começa com a narração em off de uma mulher adulta, que relata uma história vivida quando tinha 14 anos.
Precoce e dona de um temperamento forte, Mattie quer mais do que recuperar o corpo do pai: ela tem sede de vingança. Ao perceber que a polícia local, no estado de Arkansas, não fará qualquer esforço para prender Chaney, decide contratar, por US$ 50, um xerife especializado na captura de fugitivos. O nome do sujeito é Rooster Cogburn (Jeff Bridges, que assume o personagem que foi de Wayne), um beberrão de tapa-olho conhecido por seus métodos violentos, porém eficazes.
Embora Cogburn deseje realizar o serviço sozinho, Mattie faz questão de acompanhá-lo. Quer ver de perto o momento em que o assassino do pai for capturado, olhar em seus olhos.
A jornada de Mattie, ao fim e ao cabo, mais do que uma aventura, ou de uma saga de vingança, acaba sendo uma espécie de rito de passagem de uma menina que, depois de enfrentar todo tipo de percalços, se transforma em mulher, numa experiência que a marcará pelo resto de seus dias. Ela contrata Cogburn porque ele teria a tal bravura indômita, que ela acaba descobrindo possuir dentro dela mesma.
Enorme sucesso de bilheteria, Bravura Indômita é coerente com o resto da obra dos Coen, na medida em que é mais um exercício dos cineastas de fazer releituras de gêneros fundamentais do cinema norte-americano. Há, no entanto, elementos que destoam da maior parte dos filme dos irmãos diretores e roteiristas. O que mais chama a atenção é o tom algo heroico e emotivo da narrativa.
Longe de ser melodramático, Bravura Indômita mescla aos habituais humor e cinismo dos Coen uma carga dramática surpreendente, acentuada pela robusta trilha sonora orquestral de Carter Burwell, um compositor com o qual os diretores costumam trabalhar. Esse clima mais emocional também é reforçado pela espetacular fotografia do gênio Roger Deakins, vencedor do Oscar deste ano por Blade Runner – 2049.
Na tela, surgem momentos sublimes – e um tanto incomuns na filmografia dos Coen –, como a cavalgada final de Cogburn e Mattie num frio enregelante e sob um céu estrelado estupidamente belo. Um dos muitos motivos para assistir ao filme.
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