A cineasta neozelandesa Jane Campion construiu sua carreira a partir da investigação do universo feminino, desde seu primeiro longa-metragem, Sweetie (1989). Além de O Piano, sucesso internacional que lhe deu a Palma de Ouro e o Oscar de melhor roteiro original, O Retrato de uma Mulher (1996, com Nicole Kidman), Fogo Sagrado (1999, com Kate Winslet) e Em Carne Viva (2003, com Meg Ryan) também centram seu foco em mulheres complexas, sempre em crise com seu tempo e sua condição.
Esse também é o caso do belíssimo Brilho de uma Paixão (Bright Star, 2009), um espetáculo audiovisual concebido para fruição na tela grande, sobretudo pela fotografia do australiano Greig Fraser, responsável pela atmosfera idílica essencial ao enredo. O longa, contudo, também funciona em outros formatos, por conta de outro traço do longa: o tom intimista da narrativa.
Tanto a direção quanto o roteiro de Jane Campion, baseado nas cartas trocadas pelo casal até pouco antes da morte do poeta, em 1821, de tuberculose, na Itália, são dignos de louvor.
O filme tem como protagonista Fanny Brawne (a australiana Abbie Cornish, de Um Bom Ano), jovem da burguesia rural inglesa do início do século 18, obstinada e independente, que se apaixona pelo poeta romântico John Keats (Ben Whishaw, de O Perfume), um pé-rapado sem eira nem beira que pode lhe oferecer, além de seu amor incondicional, pouco mais do que seus belos poemas, ainda pouco reconhecidos pelos literatos de seu tempo – ele seria mais tarde reconhecido com um dos grandes nomes da poesia de seu tempo.
Emocionante sem jamais resvalar no excesso, o filme explora com extrema sensibilidade tanto o amor trágico entre Fanny e Keats quanto as amarras sociais que o sufocam, ao ponto de condená-lo à triste condição das causas impossíveis.
Tanto a direção quanto o roteiro de Jane Campion, baseado nas cartas trocadas pelo casal até pouco antes da morte do poeta, em 1821, de tuberculose, na Itália, são dignos de louvor. A cineasta acerta ao incorporar ao filme os poemas de Keats e os textos das comoventes mensagens trocadas pelos amantes até mesmo quando apenas uma porta os separava. A neozelandesa opta pelo sutil e pelo delicado em tempos grosseiros de obviedade. E atinge o sublime em uma pequena obra-prima pouco vista, mas inesquecível.
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