A ideia toda do irregular Caminhos da Floresta é instigante: entrecruzar as narrativas originais de alguns dos personagens mais conhecidos dos contos dos irmãos Grimm (Cinderela, Rapunzel, João e o Pé de Feijão, Chapeuzinho Vermelho), histórias de fundo moral e cautela que ultrapassaram gerações, se atenuando, perdendo a crueldade ao longo dos anos. O irônico é pensar que os mesmos estúdios Disney, que produziram a adaptação para o cinema deste premiado musical do gênio Stephen Sondheim (de Sweeney Todd, adaptado por Tim Burton), têm sido, há décadas, responsáveis por edulcorá-las, as infantilizando, para que atingissem um público maior.
É também uma grande sacada usar a floresta como metáfora para o inconsciente, espaço onde a razão não prevalece, e os desejos, os instintos afloram, expondo os personagens a perigos, e a consequências trágicas e irreversíveis, que quase inexistem nas versões mais “higienizadas” dos contos de Grimm, que andam na moda tanto no cinema quanto na televisão.
Nem Meryl Streep, ótima no papel da bruxa que põe a trama em movimento, consegue salvar o espetáculo da frustração.
Acontece que o musical de Rob Marshall (diretor de Chicago), embora tenha inegáveis méritos, e momentos bastante inspirados, que conseguem superar a origem teatral da obra, ganhando contornos cinematográficos em termos de mise-en-scène, tem sérios problemas de ritmo, de fluidez narrativa. Especialmente na segunda metade do filme, quando desmente o final feliz que parece se desenhar, e se torna mais sombrio. Embora a ironia que permeia a obra se mantenha, a receita desanda, engasga.
Em vez de decolar, por conta dessa escolha ousada de contraria a lógica do happy end clássico, Caminhos da Floresta perde o rumo e o público, que, impaciente, parece torcer para a projeção acabar logo, em meio ao excesso de cantoria. Nem Meryl Streep, ótima no papel da bruxa que põe a trama em movimento, consegue salvar o espetáculo da frustração.
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