Oriente e Ocidente convivem em O Exótico Hotel Marigold 2, continuação do sucesso de 2011, sem maiores confrontos culturais. Há alguns estranhamentos aqui e ali, mal-entendidos sem maiores consequências, que já marcavam presença no primeiro longa. Mas a tônica é a mesma: a possibilidade da transformação por meio da tolerância, da conciliação. Tudo muito bem intencionado, mas, para os mais cínicos, bem distante da vida real.
A trama acontece oito meses após o término do episódio anterior, dando sequência às aventuras pitorescas de um grupo de ingleses de terceira idade em solo indiano, onde se refugiam para ter uma velhice mais próspera, pois suas aposentadorias rendem mais, e menos previsíveis, por conta dos constantes, mas aqui sempre meio inofensivos solavancos propiciados pelas diferenças entre as duas culturas, suavizadas pelo tom edificante e leve da narrativa.
Os ingredientes que fizeram do original um êxito internacional de bilheteria se repetem quase burocraticamente. Na receita, generosas pitadas de humor inglês, com muito de sua acidez diluída, e a dócil, alegre e hospitaleira maneira de ser dos locais, que, retratados de maneira deliberadamente exótica, surgem na tela como seres imbuídos de sabedoria, espontaneidade e uma certa subserviência incômoda em relação aos velhinhos, retratados como neocolonizadores gentis, agora quase inofensivos.
Mas o diretor John Madden (de Shakespeare Apaixonado), ao repetir a parceria com o roteirista Ol Parker, não chega a perder a mão, e embora invista no escapismo, volta a realizar um filme simpático, que consegue entreter graças às ótimas atuações do elenco.
A ex-governanta Muriel Donnelly, personagem de Maggie Smith (da série Downton Abbey e duas vezes vencedora do Oscar), desta vez, ganha mais proeminência, ao se tornar coadministradora do hotel que dá título ao filme, assessorando o jovem Sonny Kapoor (Dev Patel, de Quem Quer Ser Milionário?), que sonha expandir seus negócios em uma parceria com sócios norte-americanos. Ele é algo caricato em sua patetice adorável, mas tudo bem: ele, afinal, representa a alteridade gentil, amistosa e inofensiva.
Como no primeiro longa, a morte é um tema onipresente, mas tratado de forma suave, subliminar quase, dada a idade avançada dos protagonistas.
Evelyn Greenslade (Judi Dench, de Philomena) perde um pouco do destaque nessa nova história, seguindo sua trajetória de emancipação, tentando decidir se embarca ou não em um romance de outono com o recém-separado Douglas Ainslie (Bill Nighy, de Simplesmente Amor). De novidade, a entrada em cena do misterioso Guy Chambers (Richard Gere), sessentão em boa forma que chega para fazer bater mais forte os corações maduros da mulherada do filme, inglesas e indianas. É o galã norte-americano vivendo sua eterna persona sedutora.
Como no primeiro longa, a morte é um tema onipresente, mas tratado de forma suave, subliminar quase, dada a idade avançada dos protagonistas. Diante dessa inevitabilidade, a Índia é retratada como espécie de antídoto metafórico contra a finitude, com todo o seu colorido e musicalidade, transformados em energia vital. Nada que mereça ser levado muito a sério, mas inegavelmente saboroso para uma sessão da tarde regada a escapismo e pipocas. Sem culpa.
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