Há filmes que marcam uma geração por diferentes motivos, talvez por captarem o espírito do tempo em que foram produzidos, anunciando tendências estéticas, formais, mas também, ou principalmente, por lidar com sensibilidades e afetos à flor da pele. Esse é o caso de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, longa-metragem do cineasta francês Jean-Pierre Jeunet, lançado em 2001, ou seja, há pouco mais de duas décadas.
Gigantesco sucesso de bilheteria em seu país de origem, Amélie ultrapassou fronteiras e conquistou o mundo talvez por trazer como personagem-título uma jovem de certa forma em dissonância com o mundo materialista, que dela exige ambição e racionalidade. É importante lembrar aqui que o filme se tornou um fenômeno internacional no mesmo ano dos ataques do 11 de Setembro, nos Estados Unidos. Delicado e poético, parecia ser, à época, uma espécie de antídoto para a barbárie do terrorismo.
Vivida pela então desconhecida jovem atriz Audrey Tautou, Amélie Poulain é uma garota que cresce um tanto distante da vida real, por conta da saúde supostamente frágil de seu pai e de um problema no coração inventado. Esse isolamento a leva a se refugiar em seu próprio mundo fantástico, imersa em sonhos de amor e beleza. Ao chegar à idade adulta, ela tenta se libertar, mudando-se para o centro de Paris, onde arranja um emprego com garçonete.
Indicado aos Oscar de melhor filme estrangeiro, roteiro original, direção de arte, fotografia e som, Amélie saiu sem estatuetas da cerimônia da academia, em 2002.
Depois de encontrar, no apartamento onde mora, um tesouro escondido e esquecido por um antigo morador, a protagonista decide devolvê-lo ao dono. Ao encontrá-lo e perceber a reação do homem, que parece reencontrar a alegria de viver por conta do favor recebido, Amélie resolve dedicar sua vida às pessoas ao seu redor.
A desilusão, no entanto, vem à galope: na vida real, nem sempre gentileza gera gentileza. Essa decepção traz a reboque a constatação que ela não está levando em consideração sua própria vida, seus desejos e sua busca pelo amor.
Construído como uma espécie de fábula, como seu próprio título anuncia, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain traz todas as marcas do cinema sempre a um passo do fantástico de Jean-Pierre Jeunet, que já havia lançado antes filmes como Delicatessen (1991) e Ladrões de Sonhos (1995), obras que transitam entre a realidade e o onírico, com intenso apelo visual, e rebuscados trabalhos de direção de arte, cenografia e figurino.
Indicado aos Oscar de melhor filme estrangeiro, roteiro original, direção de arte, fotografia e som, Amélie saiu sem estatuetas da cerimônia da academia, em 2002. Porém, foi um grande sucesso comercial nos Estados Unidos, onde rendeu US$ 33 milhões (cifra enorme para uma produção em língua estrangeira) – no mundo chegou a US$ 174 milhões de bilheteria. Em casa, a produção venceu os César, grande prêmio do cinema francês, de filme, direção, trilha sonora (de Yann Tiersen) e direção de arte. Tornou-se um dos ícones do cinema feito na França.
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