A menos de um mês da cerimônia de entrega do Oscar, A Grande Aposta, comédia dramática de Adam McKay (de Tudo por um Furo), desponta como um inesperado favorito ao prêmio de melhor filme, depois de ter vencido o prêmio do Sindicato dos Produtores na última semana, forte indicador da direção em que os ventos da indústria cinematográfica estão soprando. O longa-metragem pode acabar ultrapassando, na reta final, favoritos como Spotlight – Segredos Revelados, O Regresso e Mad Max: Estrada da Fúria por vários fatores: tem um roteiro afiado, seu elenco é excelente, é um sucesso de bilheteria e, sobretudo, aborda um tema urgente. Revela, com generosas doses de inteligência, humor e bem-vindas pitadas de cinismo e ironia como se desenhou a crise de 2008, que colocou no chão não apenas a economia norte-americana, mas as de quase todo o planeta.
McKay, em vez de adotar um tom grave, heroico ou catastrofista, acerta em cheio ao revelar em sua narrativa, muito bem construída e encenada, o que houve de farsesco e tragicômico na crise financeira, iniciada em 2007, que fez muita gente perder economias de toda um vida, emprego, casa e a crença no futuro. O filme, sem resvalar no maniqueísmo, tem a audácia de mostrar que houve, sim, quem tenha conseguido prever a implosão do crédito hipotecário norte-americano e, aproveitando-se da desgraça de muitos, fazer muito dinheiro.
Muitos desses anti-heróis são os protagonistas de A Grande Aposta, um filme que pode ser bastante frustrante para o espectador que não tenha o mínimo de conhecimento sobre o que ocorreu na década passada, e não seja minimamente iniciado em assuntos relacionados ao mercado financeiro e imobiliário.
A Grande Aposta pode ser um filme bastante frustrante para o espectador que não tenha o mínimo de conhecimento sobre o que ocorreu na década passada.
Baseado em fatos reais, A Grande Aposta, adaptação do livro-reportagem de Michael Lewis, faz o que pode para traduzir, na medida do possível, o “economês”, recorrendo inclusive à quebra da quarta parede com personagens falando para a câmera. Mas, com o objetivo de não parecer didático, e resultar monótono ou impenetrável demais, aposta no potencial dramático das histórias que conta, todas entrelaçadas com muita habilidade pelo roteiro bem construído e por uma edição primorosa.
Entre os personagens, que têm em comum o fato de serem em maior ou menor medida um tanto patéticos, prisioneiros que são do absurdo mundo das finanças, destaca-se o excêntrico Dr. Michael Burry (Christian Bale, em brilhante atuação indicada ao Oscar de melhor ator coadjuvante), um dos primeiros investidores a prever a hecatombe financeira que se anunciava desde o início dos anos 2000. São dele os momentos mais interessantes do filme.
Como trata de um tema nevrálgico na história recente dos Estados Unidos, e o faz com destreza e frescor, A Grande Aposta, ainda que não seja um filme catártico, transcendente, pela própria natureza do assunto que trata, pode, sim, ser o grande vencedor do Oscar 2016. Tem a seu favor a pertinência, mas temo que esteja fadado a ser esquecido com rapidez, ainda que tenha inegável valor histórico. Falta-lhe transcendência.
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