O longa-metragem polonês Ida é um filme corajoso em vários sentidos. Do ponto de vista estético, essa bravura está, por exemplo, na opção pela fotografia em preto e branco, que materializa em imagens o mal-estar instalado na Polônia do pós-Segunda Guerra Mundial, sob o jugo soviético, mas também é essencial no tratamento intimista dado à trama, devastadora. Consegue calibrá-la, a afastando de arroubos mais melodramáticos, nos fazendo mergulhar com delicadeza e cautela na subjetividade das protagonistas. Não é, quero crer, um maneirismo dispensável ou mera citação ao primeiro cinema de Ingmar Bergman.
No início da década de 60, a noviça Anna/Ida (Agata Trzebuchowska), às vésperas de fazer os votos definitivos, é chamada pela madre superiora de seu convento, que lhe faz uma grande revelação e lhe dá uma missão. Ela tem uma tia viva, Wanda (Agata Kulesza), e precisa procurá-la para descobrir sua história e, assim, chegar à conclusão se, de fato, deseja abraçar ou não a vida religiosa.
O longa-metragem, cuja impressionante fotografia também está indicada ao prêmio da Academia, passa a limpo os pecados de guerra cometidos pelos próprios poloneses, brutalizados pelo conflito.
O encontro entre Ida e Wanda tem efeitos avassaladores tanto para uma quanto para outra. A noviça descobre que seus pais eram judeus e foram mortos nos últimos anos da Guerra, em circunstâncias obscuras que juntas, tia e sobrinha, irão desvendar ao longo dos 82 minutos da trama.
Nesse processo investigativo, do qual somos testemunhas, reside outro dos atos de coragem do filme de Pawel Pawlokowski. Representante da Polônia na corrida do Oscar de melhor filme estrangeiro, na qual é um dos favoritos, ao lado do russo Leviatã, Ida não é uma obra que discute o Holocausto, embora o genocídio dos judeus promovido pelos nazistas seja um tema latente, sempre no canto da sala.
O longa-metragem, cuja impressionante fotografia também está indicada ao prêmio da Academia, passa a limpo os pecados de guerra cometidos pelos próprios poloneses, brutalizados pelo conflito. A jovem Ida, de certa forma, representa uma Polônia que mergulha em sua própria história, primeiro hesitante e, depois, com a determinação de ajustar seus rumos a partir de um enfrentamento necessário, ainda que muito doloroso.
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