Há 20 anos, quando chegou aos cinemas, o blockbuster Independence Day causou furor. Menos por conta de suas qualidades estéticas, ou mesmo técnicas, e mais em decorrência de uma bem orquestrada campanha de lançamento, o filme fez grande sucesso nos cinemas. Meia década antes do ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, as imagens da destruição, por forças alienígenas, da Casa Branca e do Empire State Building, ícones da supremacia dos Estados Unidos em um mundo pós-Guerra Fria, impressionaram o público, talvez porque representassem uma possibilidade remota, ainda restrita ao mundo da ficção, da fantasia.
Sob a direção do cineasta alemão Roland Emmerich, que vinha de sucessos comerciais, como os (até) interessantes Soldado Universal (1992) e Stargate (1994), Independence Day foi a primeira superprodução de verdade colocada nas mãos do diretor, que não se fez de rogado. Levou à tela grande uma verdadeira ode ao espírito patriótico norte-americano, retratando seu potencial belicista e supostamente heroico em relação ao resto do planeta sem muita sutileza. Eram, afinal, outros tempos.
Duas décadas mais tarde, a geopolítica se reconfigurou, e Independence Day: O Ressurgimento chega hoje aos cinemas em uma outra ordem mundial – os Estados Unidos têm a China como parceira no papel de vigilante planetária. Emmerich se deu conta disso ao diminuiu sensivelmente o tom nacionalista e triunfante nessa sequência que reencontra a Terra, e os Estados Unidos, em um momento de relativa paz, mas sempre em estado de alerta.
Os efeitos visuais, embora abundantes, onipresentes, não impressionam e até empacam a fluidez da narrativa. Muito barulho e pirotecnia para pouquíssimo enredo.
Houve um sensível avanço tecnológico, e o planeta conta com frentes avançadas de defesa, instaladas na Lua, inclusive. O contato com os alienígenas também acarretou saltos de desenvolvimento na área das ciência, sobretudo da genética, por meio de uma espécie de hibridação. Na Presidência dos EUA está uma mulher (qualquer semelhança com a realidade, em tempos de Hillary Clinton, não é mera coincidência!), vivida por Sela Ward (de O Fugitivo).
Mas os tempos de paz parecem estar com os dias contados: as imensas naves dos invasores, em estado latente desde o embate de 1996, são de repente reativadas e não com fins pacíficos. Uma nova ofensiva extraterrestre se inicia.
A nova geração de pilotos de elite, encarregada de defender o planeta, é liderada por Dylan Hiller (Jessie T. Usher), filho do capitão Steven Hiller, vivido por Will Smith no filme de 1996 e, já falecido, considerado o grande herói da nação. Mas o novo protagonista desta sequência é mesmo seu colega, e quase rival, Jake Morison (Liam Hamsworth, da franquia Jogos Vorazes), namorado de Patricia (Maika Monroe), filha do ex-presidente Whitmore (Bill Pullman), que tornou-se um homem depressivo, assombrado pela possibilidade de um novo ataque à Terra, um de seus pesadelos recorrentes.
Com um roteiro frouxo, que oferece personagens muito mal delineados e uma trama com pouca (ou nenhuma) tensão dramática, Independence Day: O Ressurgimento se assemelha mais a um videogame (ruim) de duas horas do que a uma obra cinematográfica. Os efeitos visuais, embora abundantes, onipresentes, não impressionam e até empacam a fluidez narrativa. Muito barulho e pirotecnia para pouquíssimo enredo.
O fato de os extraterrestres, à exceção de uma criatura/dispositivo aliada, não serem dotados de personalidade, de qualquer motivação mais complexa, a não ser se alimentar da energia da Terra, para depois destruir a humanidade, faz com que o confronto não tenha qualquer graça. Nem o retorno de personagens do primeiro filme, como os cientistas David (Jeff Goldblum) e Julius Levinson (Judd Hirsh), ou a presença em cena de uma grande estrela francesa do quilate de Charlotte Gainsbourg, como uma geneticista, salvam a superprodução da autodestruição.
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