O longa-metragem Jogos Vorazes, em cartaz desde a última sexta-feira nos cinemas, pode não ser um grande filme, mas é muito melhor do que se esperava de um produto cultural sem maiores ambições estéticas, realizado com o intuito de capitalizar em cima da popularidade da obra que lhe deu origem.
Adaptação do primeiro livro de uma trilogia escrita pela norte-americana Suzanne Collins, o longa-metragem de Gary Ross, diretor dos bons A Vida em Preto e Branco (1998) e Seabiscuit – Alma de Herói (2003), soube aproveitar a envolvente trama do romance e o carisma de seus personagens, sem esquecer que apenas essas qualidades não bastam no universo da imagem em movimento.
Com roteiro da própria autora, escrito em parceria com Ross e Billy Ray (de Intrigas de Estado), Jogos Vorazes rendeu, em seus três primeiros dias de exibição nos cinemas norte-americanos (incluindo as sessões de meia-noite de quinta-feira), US$ 155 milhões. Esse sucesso pode ser explicado pela grande expectativa entre os fãs dos livros, mas também pela calorosa recepção da crítica.
A trama se passa em um país chamado Panem, que, todos os anos, promove um jogo que coloca jovens casais de cada um de seus 12 distritos em uma batalha na qual apenas um indivíduo sobreviverá. Ao se oferecer como “tributo” para poupar a irmã mais nova, que havia sido sorteada em seu primeiro ano na disputa, a heroína Katniss Everdreen (Jennifer Lawrence, indicada ao Oscar de melhor atriz por O Inverno da Alma) torna-se a representante do miserável Distrito 12, ao lado de Peeta Mellark (Josh Hutcherson, de Minhas Mães e Meu Pai).
Jogos Vorazes vê o futuro como uma instância temporal sombria, na qual a condição humana, após sucessivos erros, chega mais uma vez ao limite da barbárie.
Descendente direto de tramas distópicas, como o romance e o filme 1984 (1984), Gattaca – Experiência Genética (1997) e Filhos da Esperança (2006), Jogos Vorazes vê o futuro como uma instância temporal sombria, na qual a condição humana, após sucessivos erros, chega mais uma vez ao limite da barbárie. E a competição que dá nome ao filme simboliza essa perda de referências, essa institucionalização da crueldade e da violência como algo inerente à sociedade. E sob a forma de espetáculo para as massas – os tais jogos são transmitidos ao vivo como um reality show. Qualquer semelhança com os tempos atuais, portanto, não é mera coincidência.
Partindo de uma premissa que chega a assustar, pelo alto teor de violência inerente à natureza dos jogos – os participantes, alguns pré-adolescentes, têm de matar uns aos outros –, Ross consegue, ao longo dos 144 minutos do filme, manter o interesse do público. Sua direção, assim como o roteiro, equilibra cenas de ação e momentos nos quais a complexidade dos personagens centrais tem a chance de emergir.
A atuação de Jennifer Lawrence, de 21 anos, é um dos maiores trunfos do filme. Bela, mas nunca etérea e inatingível, ela dá à personagem vigor físico, austeridade, delicadeza e sensibilidade. Uma combinação difícil de ser atingida. Hutcherson, o Peeta, também se sai bem, combinando vulnerabilidade e coragem. É interessante como, na maior parte da trama, ele vive o papel da “mocinha” a ser protegida pelo “herói”, no caso, por Katniss.
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