Épico futurista dirigido por Francis Ford Coppola, Megalópolis, em cartaz nos cinemas brasileiros, explora as semelhanças entre o declínio do Império Romano e o estado atual dos Estados Unidos, dividido entre o fascismo trumpista e ímpetos progressistas da contemporaneidade. O filme não poderia ter mais a cara de Coppola: ele escreveu, produziu, dirigiu e até bancou o projeto com seus próprios recursos – um total impressionante de US$ 120 milhões. Como se isso não bastasse, ele se tornou seu maior admirador, concedendo ao filme cinco estrelas na plataforma de críticas Letterboxd. Um verdadeiro sinal de autoconfiança.
O filme, preciso dizer aqui, não é para todos. É enigmático e, em alguns momentos, completamente insano. O roteiro é grandiloquente, irregular e fragmentado, e vez ou outra solta frases impactantes, como: “Não deixe o agora destruir o para sempre”.
Este é claramente um projeto de paixão para Coppola, ou, para os mais críticos, um exercício de vaidade. Mas, considerando seu histórico, com cinco Oscars e clássicos como O Poderoso Chefão, A Conversação e Apocalypse Now, é justo dizer que ele tem todo o direito de seguir seus instintos criativos, sem medo de arriscar.
‘Megalópolis’: enredo
A trama se baseia na conspiração de Catilina em 63 a.C., mas é situada em uma versão futurista e distópica da sociedade contemporânea, em uma “Nova Roma” que remete claramente a Nova York, mas com elementos de ficção científica.
Imagine uma cidade com um coliseu dedicado a esportes brutais e cidadãos trajando vestes que misturam o estilo romano com a estética futurista – o figurino da italiana Milena Canonero, vencedora de quatro Oscar, é incrível.
No centro da narrativa, temos Catilina, vivido por Adam Driver em seu estilo característico – intenso e exagerado, sempre a um passo da canastrice. Ele interpreta um cientista premiado com o Nobel e um arquiteto visionário, inspirado no ex-prefeito de Curitiba e governador do Paraná Jaime Lerner. Ele acredita no fim da civilização atual e sonha com uma nova cidade, construída a partir de Megalon, um material revolucionário por ele criado, que é maleável e indestrutível. Seu objetivo? Erradicar a corrupção, a ganância e as dívidas.
Além disso, Catilina possui uma habilidade quase sobrenatural: ele pode parar o tempo. Bem, até o momento em que não pode mais – mas depois pode de novo, sem muita explicação, como muita coisa no filme.
Do outro lado, temos seu rival, o prefeito Cícero, interpretado por Giancarlo Esposito. Cícero quer preservar o status quo e conta com o apoio do banqueiro Crasso III, vivido por Jon Voigh. E por falar em personagens vagando por aí, Dustin Hoffman aparece frequentemente, aparentando estar tão confuso quanto o público. Talvez ele seja o braço direito de Crasso, mas o filme nunca deixa isso claro.
Na frente romântica, temos Julia (Nathalie Emmanuel), filha do prefeito, que nutre uma paixão proibida por Catilina, criando um conflito à la Romeu e Julieta. Além disso, há a repórter Wow Platinum (Aubrey Plaza, a melhor atuação do longa), que também não resiste ao charme do arquiteto megalomaníaco.
Embora tente explorar grandes ideias e cite autores como Shakespeare, Marco Aurélio e Plutarco, Megalópolis acaba não oferecendo respostas concretas.
Embora tente explorar grandes ideias e cite autores como Shakespeare, Marco Aurélio e Plutarco, Megalópolis acaba não oferecendo respostas concretas. Como essa utopia será financiada, Catilina? Como ela vai funcionar? Essas perguntas ficam no ar.
O roteiro, quando não está sendo prolixo, nos presenteia com frases como: “Não deixe o agora destruir o para sempre”, ou “Por um salto no desconhecido, sabemos que somos livres”. Sinceramente, senti como se estivesse sendo golpeado por uma coletânea de frases motivacionais.
Assistir ao filme é como embarcar em um sonho insano, repleto de cenas bizarras, muitas das quais abandonamos no meio. Ainda assim, o longa nos leva a questionar algumas escolhas que nos conduziram até onde estamos. Apesar de todas essas peculiaridades, a excentricidade e o ego presentes em Megalópolis fazem com que a experiência seja desconcertante, por vezes divertida, mas algo entediante, porém sempre provocativa.
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