Falta pouco mais de um mês para Woody Allen completar 85 anos – seu aniversário é em 30 de novembro. Dificilmente a imprensa nos Estados Unidos fará grande alarde em torno da data. O diretor nova-iorquino, embora continue sendo um dos maiores cineastas e roteiristas ainda em atividade, foi, de certa forma, sepultado vivo pela cultura do cancelamento. E com a ajuda de seu filho biológico, o jornalista Ronan Farrow, para quem não há dúvidas de que o pai teria abusado sexualmente de sua irmã adotiva, a atriz Dylan Farrow, quando ela era criança. A Justiça americana nunca comprovou as acusações e o artista jamais foi levado a júri.
Proponho aqui que tentemos separar, se possível, o homem do artista, para falar de um dos filmes mais importantes de sua extensa obra, que, em 2021, completa 10 anos: Meia-Noite em Paris, longa que deu a Allen o seu terceiro Oscar de melhor roteiro original – os outros dois foram por Annie Hall (1977) e Hannah e Suas Irmãs (1986).
Meia-Noite em Paris é um dos maiores êxitos comerciais na carreira de Allen, que encontrou na França, país onde é endeusado por público e crítica, inspiração para uma de suas tramas mais originais e encantadoras.
Meia-Noite em Paris é um dos maiores êxitos comerciais na carreira de Allen, que encontrou na França, país onde é endeusado por público e crítica, inspiração para uma de suas tramas mais originais e encantadoras.
O personagem central é Gil (Owen Wilson), roterista de Hollywood que também enfrenta uma crise criativa. Insatisfeito com os rumos de sua carreira, dedicada a escrever filmes descartáveis para a indústria, ele sonha dedicar-se à literatura mais séria. E é durante uma viagem a Paris, em companhia da noiva, a frívola e materialista Inez (Rachel McAdams) que Gil vive uma espécie de surto libertador.
Em uma noite, enquanto vagueia em busca de uma resposta para sua vida, ele é sequestrado de volta à década de 1920, aos chamados anos loucos, numa dimensão paralela a sua realidade onde conhece, em carne e osso, os escritores F. Scott Fitzgerald (e sua mulher Zelda) e Ernest Hemingway, seus ídolos, além dos pintores Salvador Dalí e Pablo Picasso e do cineasta, também espanhol, Luis Buñuel.
Nessa colisão surreal com o passado, Gil vai aos poucos percebendo o ridículo de sua vida, a superficialidade de sua relação com Inez, e decide redesenhar o futuro.
Meia-Noite em Paris e Blue Jasmine, de 2013, são os últimos grandes longas-metragens de Allen, que segue filmando – seu último trabalho é O Festival do Amor (2020), rodado na Espanha, durante o Festival de San Sebastian, que o coproduziu. O filme permanece inédito por aqui.