O público curitibano terá pelo menos mais uma semana para descobrir um filme que merecia estar em exibição em um circuito bem mais amplo: Meninos de Kichute, sensível adaptação do romance homônimo do escritor londrinense Márcio Américo, que segue em cartaz no Cinesystem Cidade.
O cineasta catarinense Luca Amberg contou à reportagem que estava em Londrina, rodando o ainda inédito longa-metragem Heróis da Liberdade, quando descobriu, meio ao acaso, o livro de Américo. “A identificação foi imediata. Eu passei minha infância nos anos 1970, em Lages, e vivi muitas das situações descritas pelo romance. Quando terminei a leitura, procurei o autor propondo a ideia de escrever, em parceria, o roteiro.”
O sensível Meninos de Kichute, baseado em romance homônimo do paranaense Márcio Américo, segue em cartaz.
As experiências de meninice de Amberg e de Américo acabaram por se encontrar em Meninos de Kichute, que conta a tocante e nostálgica história de Beto (Lucas Alexandre), um garoto de classe média baixa que tem o sonho de se tornar goleiro da seleção brasileira. Sua ambição, no entanto, esbarra no pai, o pintor de paredes Lázaro (Werner Schünemann), um homem autoritário e muito preso a suas crenças religiosas, que vê no esporte um desvio perigoso e não aceita a ideia do filho jogar futebol.
A seu lado, Beto conta com a a mãe, Maria (Vivianne Pasmanter), uma mulher mais doce e compreensiva, que também sofre com a inflexibilidade do marido. Para quem não sabe, ou não se lembra, Kichute é uma marca de tênis que ficou muito famosa nos anos 70 e 80, por se parecer com uma chuteira, porém mais barata.
Amberg, que também viveu em Curitiba, na adolescência e na primeira década dos anos 2000, quando já atuava na área de cinema, conta que, para selecionar Lucas Alexandre, fez testes com 700 garotos até finalmente encontrá-lo, na periferia da cidade de São Paulo.
Segundo o diretor, apesar de não ter qualquer experiência como ator, o menino tinha a inteligência e a sensibilidade que o papel exigia. “Muitos me chamaram de louco por escolher um garoto branquinho, de apartamento, que parecia nada ter a ver com o personagem.”
Lucas, hoje com 17 anos, tem participado da divulgação do filme, também em cartaz nas cidades paranaenses de Maringá e Londrina.
Meninos de Kichute foi rodado em 2008 em Piracaia, pequeno município do interior de São Paulo. Amberg diz que, apesar de a trama se passar no subúrbio de uma cidade maior, como Londrina, ele preferiu filmar em uma localidade menor, por lá encontrar, ainda intactos, traços de como era a vida no Brasil dos anos 70, quando a história se passa. Contribui para a reconstituição de época a ótima trilha sonora, com músicas de Os Incríveis, Lindomar Castilho, Secos e Molhados a Jorge Ben Jor.
Reconhecimento
Em 2010, Meninos de Kichute ganhou o prêmio de melhor filme brasileiro pelo júri popular da 34.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ainda assim, o diretor conta que enfrentou enormes dificuldades para distribui-lo, o que explica o fato de a produção ter ficado engavetada por tanto tempo. No ano passado, por conta ainda desse ineditismo, Vivianne Pasmanter também faturou o prêmio de melhor atriz no Los Angeles Brazilian Film Festival.
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