É mesmo uma tentação evocar a trajetória errática de Tom Cruise nos últimos anos para falar de Missão Impossível: Nação Secreta. Como se os altos e baixos na carreira e na vida pessoal do ator de alguma forma dialogassem com o filme, que chega hoje aos cinemas brasileiros, depois de estrear com sucesso de público e crítica nos Estados Unidos.
De fato, há uma forte ligação entre ficção e realidade: a franquia, inaugurada em 1996 sob a direção do mestre Brian De Palma, chega a seu quinto episódio com invejável fôlego e, sim, mostra que, a despeito do fato de seu astro não ser mais garantia absoluta de sucesso, e ainda esteja à espera de um grande papel que resgate a sua credibilidade como ator dramático, ainda brilha, e muito, quando à frente do veículo certo.
Após do fraco desempenho comercial do terceiro (e competente) filme, que não decolou nas bilheterias norte-americanas em 2006, muito mais por conta de um certo fastio do público com a imagem desgastada de Cruise, e suas excentricidades, não foram poucos os que julgavam que a franquia havia se esgotado. Mas o ator nunca desistiu de Hunt. Resolveu ele mesmo investir no eletrizante Missão Impossível – Protocolo Fantasma (2011), que faturou US$ 209 milhões nos EUA e pavimentou o caminho para este quinto longa-metragem, sem exagero o melhor de todos. Aos 53 anos, Cruise e seu personagem estão em grande forma.
Na trama, Hunt se aproxima da figura de um James Bond da velha guarda, com humor, charme e sedução – Daniel Craig é hoje uma versão sombria e atormentada do agente 007. O personagem de Cruise investiga uma agência de espionagem internacional, formada por egressos de vários serviços secretos ao redor do mundo. A organização se chama Sindicato. Enquanto isso, sua agência, a IMF, passa por momentos difíceis. O governo norte-americano suspeita que ele esteja por trás dessa organização criminosa. Ele, então, decide sair de cena.
Aos 53 anos, Cruise e seu personagem estão em grande forma.
Na clandestinidade, o espião, com o auxílio do impagável Benji (Simon Pegg), começa a investigar os planos terroristas do Sindicato para não apenas capturar, mas também assassinar políticos europeus. E como não conta com o suporte de seu governo, só lhe resta recorrer a seus aliados mais próximos, vividos por Jeremy Renner e Ving Rhames.
Um dos pontos do filme é a ambígua relação que se estabelece entre Hunt a Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), agente britânica infiltrada no Sindicato. A personagem, uma homenagem implícita ao personagem de Ingrid Bergman no clássico Casablanca, traz grande frescor ao filme, ao desafiar o protagonista em vários sentidos, inclusive eroticamente.
A direção de Christopher McQuarrie (vencedor do Oscar de melhor roteiro original por Os Suspeitos), que já havia dirigido Cruise no eficiente Jack Reacher – O Último Tiro, é inteligente, inventiva. Trouxe não apenas tensão e sensualidade à franquia, mas lhe proporcionou algumas de suas melhor sequências de ação: a que se desenrola na Ópera de Viena, citação explícita a O Homem Que Sabia Demais (de Alfred Hitchcock), nasce clássica e é um dos pontos altos do cinema neste ano. E Cruise, talvez na necessidade de se desafiar, realiza a maioria das cenas sem qualquer ajuda de dublês. Afinal, ele e Hunt, de certa maneira, se confundem em seus tombos e acertos.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.