Você já fez alguma coisa por seu irmão ou irmã, com a única intenção de ajudá-los a se sentir menos para baixo? Matt Berninger, 44, vocalista da aclamada banda americana The National já fez. E muito.
Em 2010 o The National viajaria para Europa, para fazer aquela que seria a maior turnê da banda, desde que tornaram-se os queridos da crítica. Matt decide que Tom, o irmão nove anos mais novo, poderia ir junto e trabalhar como roadie. Para Matt era uma forma de ficar próximo de Tom e tirá-lo da vida sem graça que ele levava em Cincinnati (Ohio) morando ainda com os pais.
E é dos meses na estrada que nasce o documentário Mistaken for Strangers, que também é título de uma das músicas do The National. O filme, que estreou no Tribeca Film Festival, em 2013, mais do que um relato sobre o dia a dia de uma banda, narra os conflitos que acontecem entre Tom, Matt e o restante do grupo.
Tom é fã de filmes de horror e curte heavy metal. É a total antítese do que é a essência do The National. Seu interesse em pegar a estrada com a banda era muito mais para exercitar os dotes de diretor do que ser um roadie. E é aí que começam os problemas.
Lista de convidados que não é impressa, comida e bebida faltando no camarim, equipamento sem devidos testes e por aí vai. Nada do que Tom faz dá certo e em alguns momentos Matt tem que intervir e dar conselhos. Em outros perde a paciência e o controle. Chuta, grita e bate a porta. Como diria Tom em um dos trechos do filme “Ter Matt como irmão mais velho, é uma treta. Porque ele é uma estrela do rock, e eu não.”
As exigências, as broncas, a mesquinharia e a desconfiança sobre o que Tom grava, vêm do outro lado – manager, engenheiro de som e dos outros membros da banda. Em alguns momentos a antipatia deles chega a ser incômoda.
Por outro lado os planos para o documentário também não engrenam. Tom não tem roteiro, faz perguntas infantis aos membros da banda, como a “Onde você vê a banda daqui a 50 anos?” e, principalmente, pega a câmera nas horas mais impróprias.
Embora Matt fique furioso, não se percebe atitudes de arrogância e hostilidade com o irmão. O músico parece não precisar de muita coisa pra ficar contente – um copo de vinho na mão e um cabo de microfone com pelo menos uns 100 metros (se você não sabe veja aqui por que), já são excelentes itens.
As exigências, as broncas, a mesquinharia e a desconfiança sobre o que Tom grava, vêm do outro lado – manager, engenheiro de som e dos outros membros da banda. Em alguns momentos a antipatia deles chega a ser incômoda.
Tom faz tanta bobagem que na metade da turnê é convidado a se retirar. É nesse momento que se vê como ele tem um lado teatral e dramático. De início parece sofrer de ingenuidade e baixa estima crônicas, usando frases como “Eu era feliz. Agora Matt é o feliz e eu sou o deprimido.” Mas no seu fluxo de consciência há certa exibição e esperteza.
Quando o The National volta para casa, Matt corre resgatar o irmão. Quer que ele termine o filme. A esposa do músico, Caren Besser, que trabalha como editora na revista The New Yorker, ajuda na edição do material. O casal cede a Tom o quarto de brinquedos da filha Isla. Aqui você verá uma das cenas mais emocionantes do filme. Pelo menos no meu sentimento.
Mistaken for Strangers é um relato honesto, por vezes humilhante, irritante, mas chegando ao final a gente se redime. Porque o amor se instala. E nos mostra o que de melhor ele tem, seja certo ou errado. De qualquer forma, belo. De início o documentário estava disponível somente pelo site da banda ao custo de cinco dólares (nesse caso há legenda em português de Portugal). Mas agora já está na internet.
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