Numa tarde ensolarada nos anos 1960, dona Maricota pediu a Lô Borges, um dos seus 11 filhos, para comprar pão e leite. Descendo a escadaria do edifício Levy, no centro de Belo Horizonte, o menino de 10 anos ouviu uma melodia suave e envolvente vindo de um violão próximo. Intrigado, o garoto se aproximou e viu um jovem com um sorriso doce, acolhedor, dedilhando o instrumento com maestria. Era Milton Nascimento, recém-chegado ao prédio. Sem hesitar, Lô pediu para se sentar ao lado dele, e assim começou uma amizade que mudaria suas vidas para sempre e dura até hoje.
Clube da Esquina, lançado em 1972, é mais do que um álbum musical; é um testemunho de amizade, colaboração e criatividade, além de ser um monumento da música brasileira. Esse movimento cultural e musical floresceu em torno do grupo de amigos que se reuniam na década de 1960 em Belo Horizonte, conhecido como Clube da Esquina, para criar músicas ao violão ou piano. O documentário Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina, dirigido por Ana Rieper, resgata essas memórias e revela como algumas das mais icônicas canções surgiram, a partir das relações interpessoais.
Clube da Esquina, lançado em 1972, é mais do que um álbum musical; é um testemunho de amizade, colaboração e criatividade.
O filme mergulha nas raízes da essência musical do Clube da Esquina, destacando a colaboração de talentos como Milton, Lô, Beto Guedes, Fernando Brant, Márcio Borges (irmão de Lô), Wagner Tiso, Toninho Horta, Ronaldo Bastos, Flávio Venturini, entre outros. Ele também revela as influências e inspirações que moldaram o som do grupo, citando bandas britânicas como Beatles e Genesis, o mestre do jazz americano Miles Davis e o compositor erudito francês Debussy, entre outros.
Mesmo com sua importância na preservação da memória musical, Nada Será como Antes tem abordagem narrativa algo previsível e por vezes monocórdica, pouco envolvente. O filme se apoia principalmente em entrevistas, interpretações musicais e imagens de arquivo, o que pode tornar a experiência um tanto monótona em alguns momentos.
Apesar dessas críticas, a música do Clube da Esquina continua relevante e a ressoar com vitalidade e surpresa, mais de meio século após sua criação. Suas melodias e letras continuam a encantar novas gerações, o que mostra a genialidade e a importância histórica desses músicos e do movimento que eles representam.
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