Magda Borowska (Anna Smolowik) é uma dona de casa que adora histórias policiais. Sua vida em uma cidadezinha no interior da Polônia é extremamente calma, exceto pelas pequenas grosserias do marido Tomasz (Przemyslaw Stippa) que, somadas, acabam tornando seu casamento um sufoco. Mas até isso Magda tira de letra, investindo no “respirar e continuar”. Afinal, ela não vê grandes perspectivas em uma mudança de vida e teve dois filhos em seu casamento de 15 anos.
Esse cotidiano mergulhado na calmaria começa a sofrer uma reviravolta quando, em um passeio noturno, Magda encontra o corpo de uma jovem assassinada. A vítima tem um pingente no pescoço com a letra “W” que dá título ao filme, referência a Weronika (Emma Giegzno), uma grande amiga da protagonista desaparecida há alguns anos.
Amante de histórias policiais que é, Magda não consegue resistir à ideia de solucionar o caso. Dessa forma, ela alimenta uma espécie de disputa (cômica, por sinal) com Jacek (Pawel Domagala), comissário da cidade. Esse conjunto de informações contextualiza a base sobre a qual se estrutura o suspense policial polonês O W da Questão (2021), disponível na Netflix desde meados de outubro.
Dirigido por Piotr Mularuk, O W da Questão demonstra a intenção de ser, ao mesmo tempo, suspense, policial, drama e comédia. O problema é que o filme, com roteiro do próprio Mularuk e baseado em livro da autora Katarzyna Gacek, acaba perdendo-se nesse emaranhado de intenções. Some-se a isso a existência de interpretações que ora podem ser consideradas caricatas, ora artificiais mesmo. E, também, o fato de o famigerado, clássico e já esperado quebra-cabeças onipresente em produções do gênero policial não empolgar muito o espectador a juntar as peças.
É essa percepção de perigo constante em um ambiente visualmente bonito que faz de O W da Questão uma experiência recompensadora. Mas é isso. Só isso. E isso é muito pouco, insuficiente para coroar o todo.
O que tende a atrair mais a atenção em O W da Questão não é a solução do mistério, mas as situações que orbitam ao seu redor ou que com ele se entrelaçam. É o caso da já comentada disputa cômica entre Magda e Jacek pelo protagonismo na descoberta de quem é o assassino; o rumo que o casamento da protagonista tomará em meio a uma suspeita (?) de traição; a forma como Magda agirá com o fato de um médico veterinário bonitão (Jacek Knap) cruzar o seu caminho.
Um dos momentos mais prazerosos de assistir ao filme é acompanhar a protagonista pelas belas ruas da cidadezinha onde mora, repleta de flores e arbustos e construções de encher os olhos. Sobretudo no momento em que o roteiro apresenta uma atmosfera de perigo iminente no ar.
Pelo transcorrer da história, existe uma fase da narrativa em que prevalece a sensação de que de trás de qualquer muro ou arbusto, em qualquer parque ou jardim, um perseguidor tomará a tela colocando efetivamente em risco a vida de Magda.
É essa percepção de perigo constante em um ambiente visualmente bonito que faz de O W da Questão uma experiência recompensadora. Mas é isso. Só isso. E isso é muito pouco, insuficiente para coroar o todo. Ao fim dessa “viagem” de Magda com seus coadjuvantes, fica a sensação de que a alta expectativa de ver um suspense policial falado em língua polonesa acabe revelando-se uma experiência morna.