Você já foi em algum restaurante, café bar ou elevador em que as televisões estavam ligadas naquele canal de belas imagens de surf, o OFF?
Agora imagine que, entre as cenas exaltando a beleza da natureza, um senhor vestido de cowboy pegasse uma guitarra e começasse a tocar um folk rock suave. Imaginou? Agora substitua o mar por uma fazenda/mina e um clima árido (e às vezes neve, vai saber). Repita por uma hora e dez minutos e você terá assistido a Paradoxo, da diretora Daryl Hannah.
A coisa toda parece uma ideia de um grupo de amigos, que não tinham um roteiro ou argumento formado, mas curtiam a temática western e queriam fazer um master vídeo-clipe intercalado com algumas cenas de paisagens e frases de efeito sem contexto.
Não parece tão ruim… como som ambiente para um jantar talvez, já como longa-metragem é muito conceito para pouco conteúdo. Mas tudo bem, porque o músico Neil Young, idealizador e centro do projeto, parece estar zero preocupado com isso.
A coisa toda parece uma ideia de um grupo de amigos (todos os atores são os membros da banda de Young), que não tinham um roteiro ou argumento formado, mas curtiam a temática western e queriam fazer um master videoclipe intercalado com algumas cenas de paisagens e frases de efeito sem contexto.
Essas frases oscilam entre momentos engraçados (ainda que pareçam piadas internas entre os atores) e só constrangedores, como quando ouvimos a piada de tiozão: “o amor é como um peido, se você ter que forçá-lo, provavelmente é merda”.
Destaque para a participação do cantor country lendário Willie Nelson (pai de dois músicos da trupe), que até espantou meu sono no susto de reconhecê-lo, mas que não fez nenhum sentido. Fanservice agradável, no entanto.
O problema é que alguém no Festival de Sundance achou tudo brilhante (e eu torço muito para ter sido uma piada que alguém abraçou) e a Netflix estreou semana passada Paradoxo como um “faroeste onde Neil Young e seu bando de foras da lei levam truques inusitados e magia musical ao Oeste”. Não espere um início, meio e fim. Lá para os últimos minutos, o filme ensaia uma narrativa quando as mulheres (até então ausentes) são introduzidas na trama, mas daí tudo acaba.
É um clipe muito bonito, mas o mais longo da história. É um filme curto, mas interminável. É por esse excesso de conceito, e pela extensão de um álbum, que comparo com o icônico trabalho de Beyoncé no vídeo/disco/instalação Lemonade. Recomendado para os fãs de Neil Young, já que até um trecho ao vivo de um show foi inserido entre cavalos, chapéus de cowboy e folk rock.
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