Quem acompanha mais de perto a carreira errática do comediante norte-americano Adam Sandler deve ter percebido há algum tempo que ele não tem feito boas escolhas. Se no passado chegou a ser considerado suficientemente interessante para que um cineasta do calibre de Paul Thomas Anderson (de Sangue Negro) o convidasse para protagonizar a subestimada e ótima comédia dramática Embriagado de Amor, hoje em dia o astro prefere não correr muitos riscos, produzindo e estrelando filmes que sempre o mantém em sua zona de conforto, na qual invariavelmente faz papéis escritos tendo em vista sua persona pública.
Pixels, que acaba de estrear nos cinemas brasileiros, por mais que seja uma superprodução, e misture, de leve, elementos de ficção científica e aventura, não deixa de ser feito sob encomenda para Sandler e seu humor de gosto por vezes duvidoso, que pode, sim, ser engraçado, mas com maior frequência não ultrapassa as fronteiras da idiotice constrangedora e infantiloide.
O fato de Pixels ser dirigido por Chris Columbus, de títulos das vitoriosas franquias Harry Potter e Esqueceram de Mim, poderia ser um valoroso certificado de qualidade, já que o cineasta domina com desenvoltura os gêneros comédia, aventura e fantasia. Há na receita, contudo, algo que não dá muito certo. Possivelmente tem a ver com o fato de Sandler, que produz o longa, não abrir mão dar ao pacote o seu tom, a esta altura suspeito.
Na trama de Pixels, antigos campeões mirins de fliperama dos anos 80, vividos na fase adulta por Sandler, Josh Gad e Peter Dinklage (de The Game of Thrones), são recrutados pelo presidente norte-americano (Kevin Thomas), que foi amigo do protagonista na infância, para combater alienígenas. Eles invadem a Terra travestidos de games, inclusive com imagens pixeladas como eram os velhos jogos da infância dos anos 80, como como Pac-Man, Donkey Kong, Space Invaders e os blocos do Tetris, entre outros. A ideia é boa, não? Especialmente porque o filme também também busca óbvia inspiração no clássico infantojuvenil Os Caça-Fantasmas, que está prestes a ganhar um remake “oficial”, estrelado por um elenco de comediantes femininas.
O fato de Pixels ser dirigido por Chris Columbus poderia ser um valoroso certificado de qualidade, já que o cineasta domina com desenvoltura os gêneros comédia, aventura e fantasia. Há na receita, contudo, algo que não dá muito certo.
Também são bem-vindas, ainda que talvez um tanto cifradas para o público jovem de hoje em dia, as referências a ícones da cultura pop oitentista, como o duo Daryl Hall & John Oates, Madonna e dupla Sr. Roarke (Ricardo Montalban) e Tatto (Hervé Villechaize), do seriado Ilha da Fantasia. O projeto se torna ainda mais promissor se pensarmos que o roteiro foi baseado em um curta-metragem francês, do diretor francês Patrick Jean, de apenas dois minutos.
Mas Sandler quase põe tudo a perder ao não permitir que o filme escape de seu domínio, tentando recheá-lo com uma sucessão de piadas feitas sob medida para ele e sua turma, mas que esvaziam o possível impacto que a história pudesse ter. Quase todas têm um certo paladar de “vergonha alheia”, sobretudo quando o personagem de Sandler, um promissor nerd que não conseguiu alcançar seu lugar ao sol, investe em um forçado romance com uma militar, interpretada por Michelle Monaghan.
Quem acaba roubando a cena é Dinklage, realmente engraçado no papel de um presidiário, supostamente um ás em alguns dos games e antigo rival do personagem de Sandler. Cafajeste e mau-caráter até a medula, ele chega a exigir, em troca de sua participação na luta contra os extraterrestres, um encontro tórrido com a tenista Serena Williams e a apresentadora e megaempresária Martha Stewart, que fazem participações no filme, que poderia ter sido bem melhor do que é, não fosse o ego inflado de seu astro e produtor.
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