Se etarismo e a obsessão pela juventude eterna são temas que intrigam você, não deixe de ver A Substância, em cartaz nos cinemas brasileiros. Demi Moore entrega uma performance cativante no papel de Elisabeth Sparkle, atriz premiada que se transformou em ícone fitness da tevê. No entanto, seu emprego entra em risco quando Harvey (vivido por Dennis Quaid), seu chefe machista, decide dispensá-la, alegando que ela cometeu o imperdoável: envelhecer.
Moore, aos 61 anos, é uma atriz talentosa. Em Hollywood, porém, as mulheres são frequentemente descartadas ao primeiro sinal de envelhecimento. Elisabeth, assim como Demi, conhece essa realidade de perto. Quando ela vê um outdoor com seu rosto sendo removido, quase sofre um acidente de carro. No hospital, descobre uma substância experimental que promete solucionar todos os seus problemas.
Parece bom demais para ser verdade? Claro que sim. A partir daí, a roteirista e diretora francesa Coralie Fargeat, conhecida por subverter o olhar masculino em seu filme Vingança (2017), critica os padrões irreais de beleza impostos por chefes tóxicos, que condicionam a carreira das mulheres às suas fantasias sexuais.
É um mundo complicado e Fargeat não o aceita e reage com fúria – sim, o seu cinema é embotado de raiva. A Substância é visualmente explícito, nada sutil, ao abordar os padrões inatingíveis de beleza e o “horror corporal” que as pessoas enfrentam para tentar alcançá-los.
Você talvez queira fechar os olhos quando a substância faz as costas de Elisabeth se rasgarem, revelando uma versão mais jovem de si mesma, chamada Sue. Essa clone, que só lembra vagamente Elisabeth, se chama Sue. Margaret Qualley, filha da atriz Andie MacDowell, tem uma interpretação brilhante de Sue, trazendo um toque de criatividade à personagem.
Mas há um detalhe: Sue só pode existir por uma semana de cada vez, o que obriga Elisabeth a se esconder até que Sue desapareça e ela possa voltar. Logo, Demi e sua versão mais jovem estão em conflito.
As coisas se complicam ainda mais quando Sue é contratada pelo antigo chefe de Elisabeth (com Quaid hilariamente assustador como Harvey) para ser a estrela de um novo programa de exercícios, Pump It Up. Ao ver Sue nos outdoors que antes exibiam sua própria imagem, a tensão chega ao limite.
‘A Substância’: violência e escatologia
A Substância é uma fábula moderna sombria que começa apontando o dedo para os homens que transformam as mulheres em objetos, mas vai além. Fargeat reserva uma crítica especial às mulheres que se submetem a esses padrões, sacrificando sua essência por mais alguns momentos como deusas.
A Substância é uma fábula moderna sombria que começa apontando o dedo para os homens que transformam as mulheres em objetos, mas vai além. Fargeat reserva uma crítica especial às mulheres que se submetem a esses padrões, sacrificando sua essência por mais alguns momentos como deusas.
Apesar das cenas de violência gráfica que dão ao filme uma classificação para maiores de 18 anos, A Substância é uma análise poderosa da obsessão pela juventude. Já premiado com os prêmios de melhor roteiro em Cannes e do público em Toronto, o filme tem grandes chances de atrair a atenção do Oscar pela forma feroz como satiriza a vaidade.
Demi Moore brilha intensamente nesse papel, que pode ser o mais marcante de sua carreira – seu confronto final com Qualley é um espetáculo sangrento com efeitos especiais dignos de prêmios.
Ainda assim, é em um momento mais íntimo que Moore revela uma profundidade emocional surpreendente. Ela é especialmente comovente em uma cena na qual Elisabeth se prepara para um encontro, seu rosto refletido no espelho expressando desde amor-próprio até autodesprezo. Em uma performance impressionante, Moore vai além da superficialidade para explorar as feridas de uma personagem que literalmente se divide ao meio para manter a ilusão de uma beleza eterna.
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