Este filme sobre um casal de argentinos que vem passar férias de verão no sul do Brasil é de deixar quem gosta de ação com os nervos à flor da pele. Com vontade até mesmo de apedrejar a tela. Exageros à parte, é bem provável que uma parcela significativa das pessoas que parem para ver Sueño Florianópolis (2018), da diretora argentina Ana Katz, logo desistam da empreitada. Em seu começo, o filme passa a sensação de que nada acontece.
Depende do ponto de vista. Na verdade, muita coisa acontece, mas não ultrapassa o status do banal, do trivial, daquilo que pode acontecer com qualquer casal em viagem e que esteja enfrentando um processo de avaliação do relacionamento que estabelecem. Há quem goste. Há quem abomine. O fato é que o roteiro flui e aquilo que inicialmente poderia parecer o cúmulo da chatice transforma-se em gerador de curiosidade. O espectador tende a querer saber onde afinal o enlace das atitudes de todos os personagens, protagonistas e coadjuvantes, vai desembocar.
É possível dizer que, em meio às belas paisagens litorâneas de Florianópolis, com seus caminhos floridos e belas praias, o que a diretora e seu elenco parecem fazer é construir uma doce homenagem ao trivial. Há quem goste. Há quem abomine.
A trama é bem simples. Pedro (vivido por Gustavo Garzón) e Lucrecia (interpretada por Mercedes Morán) viajam, nos anos 1990, de Buenos Aires para Florianópolis, em um velho carro, com seus dois filhos adolescentes. Ao chegarem na capital catarinense, acabam conhecendo os brasileiros Larisa (interpretada por Andrea Beltrão) e Marco (vivido por Marco Ricca). O envolvimento entre todos é bastante sutil. O roteiro, que conta também com a participação da diretora, constrói uma sequência de ações que criam um panorama muito próximo daquilo que tranquilamente poderia acontecer na realidade.
Seja pelas particularidades de como a comunicação entre argentinos e brasileiros acontece; seja pela forma como as informações sobre os personagens são dadas pouco a pouco, por camadas; seja, ainda, pela caracterização dos moradores do litoral como pessoas muito calmas e acolhedoras (a personagem de Andrea Beltrão que o diga), a história tem alta carga de naturalidade e verossimilhança. Dar mais detalhes pode estragar a surpresa de acompanhar ao filme.
É possível dizer que, em meio às belas paisagens litorâneas de Florianópolis, com seus caminhos floridos e belas praias, o que a diretora e seu elenco parecem fazer é construir uma doce homenagem ao trivial. Há quem goste. Há quem abomine. Os que integram o primeiro grupo tendem a sair satisfeitos dessa experiência cinematográfica de acompanhar à distância (ou nem tão à distância assim) esse passeio de verão da família argentina.
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