Nos meses que antecederam o lançamento de As Sufragistas, o drama histórico de Sarah Gavron (de Brick Lane) sobre a luta pelo voto feminino na Grã-Bretanha do início do século 20, era apontado como uma das grandes apostas na temporada de lançamentos de fim de ano, com toda a cara de possível indicado ao Oscar em diversas categorias.
A produção, no entanto, não correspondeu às expectativas, talvez porque o excesso de reverência ao tema, de inegável importância, tenha resultado em um certo academicismo na condução da trama, narrada de forma competente, porém sem todo o arrebatamento esperado.
Mesmo assim, As Sufragistas, que estreia hoje nos cinemas brasileiros, está muito longe de ser descartável. Pelo contrário: é uma obra necessária, fadada a ser exibida por muitos anos para ilustrar aulas e debates que envolvam a condição feminina, a história da luta pela participação das mulheres na vida política e a própria trajetória do feminismo.
Essa relevância é tão evidente que, na semana passada, o longa-metragem de Gavron foi o grande vencedor, nos Estados Unidos, da premiação Women Film Critics Circle, de viés mais político do que estético. Foi reconhecido em várias categorias, entre elas as de melhor filme sobre e/ou feito por mulheres, direção, atriz (Carey Mulligan, de Drive), elenco e melhor imagem feminina em um longa-metragem, prêmio bastante emblemático. Vale lembrar aqui que o brasileiro Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, foi escolhido pela associação, o melhor filme estrangeiro de 2015.
Essa relevância é tão evidente que, na semana passada, o longa-metragem de Gavron foi o grande vencedor, nos Estados Unidos, da premiação Women Film Critics Circle.
O reconhecimento de As Sufragistas faz total sentido, ainda que, do ponto de vista cinematográfico, o longa seja um tanto convencional, quase didático demais. O filme conta a história de Maud Watts (Mulligan), uma jovem de 24 anos. Casada, mãe de um menino e funcionária de uma lavanderia industrial, ela vê sua vida de operária se transformar nos primeiros anos do século 19.
Um dia, enquanto tenta fazer a entrega de uma encomenda, ela reconhece uma colega de trabalho, Violet (Anne-Marie Duff, de O Garoto de Liverpool), em uma ação do movimento sufragista, a atirar uma pedra na vitrine de uma loja.
O engajamento da amiga a impressiona, a faz começar a refletir, mas ela se mantém, em princípio, à distância, com receio de colocar seu emprego e sua família em risco.
Mais tarde, Maud é convocada a testemunhar, em nome da causa do voto feminino, no lugar de Violet, que havia sido espancada pelo marido. Essa experiência tem sobre ela um impacto imenso: ela percebe que tem o poder, e o dever de dar sua contribuição e decide se envolver com a militância.
Essa decisão terá um impacto profundo no cotidiano de Maud. Seu marido Sonny (Ben Whishaw, de O Brilho de uma Paixão) se revolta e a expulsa de casa, a separando do filho, George (Adam Michael Todd).
A triste jornada de Maud traz para o plano privado uma discussão da esfera pública, fundamental na história dos direitos humanos. O movimento sufragista, que tinha entre suas principais líderes na Inglaterra Emmeline Pankhurst (no filme vivida por Meryl Streep, em pequena participação especial), foi bastante polêmico, e por vezes contundente, e consequentemente reprimido com violência pelo Estado, interpretado como terrorismo. Uma chave para se compreender sua importância é sua origem popular, na classe trabalhadora.
A ótima reconstituição de época e o excelente elenco compensam o caráter um tanto formulaico do roteiro de Abi Morgan, que tem no currículo A Dama de Ferro, cinebiografia de Margaret Thatcher, e o ótimo Shame, de Steve McQueen. Vale a pena conferir.
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