“Eles acreditam que estão fazendo a coisa certa porque os fins justificam os meios: ‘tenho que eleger meu candidato’. E ponto final. Não importa se pessoas se ferirem no caminho. Olhando a coisa como um todo, podemos dizer: ‘Se ele for eleito, é o melhor candidato que pode afetar milhares de vidas, que podem ser salvas por ele. Então, vou permitir que algumas pessoas sofram”. É assim que George Clooney defende a forma de atuação de assessores de comunicação de campanhas políticas ao falar de seu mais novo filme, Tudo Pelo Poder (2011). O quarto trabalho de Clooney como diretor, depois de Confissões de uma Mente Perigosa (2002), Boa Noite e Boa Sorte (2005) e O Amor não tem Regras (2008), enfoca um desses assessores e busca retratar amplo leque de eventuais situações que agitam os bastidores de uma disputa eleitoral.
O que se vê são personagens interagindo em prol exatamente daquilo que indica a fala de Clooney e o título em português (o título original, The Ides of March, faz referência ao 15 de março do calendário romano, dia em que o imperador Júlio César foi assassinado, em 44 a.C.). A história transcorre no contexto da eleição primária do Partido Democrata em Ohio com vistas a decidir qual candidato concorrerá à presidência dos Estados Unidos.
Desse cenário bem específico, o roteiro esboça um retrato universal dos bastidores de uma disputa política. Pode-se ver a busca de acordos indesejados para obter êxitos futuros, embate de egos, divulgação de informações negativas sobre o oponente, manipulação estratégica de informações para conquista de visibilidade midiática, utilização de blogs com o objetivo de disseminar boatos que desestabilizem o adversário. Não se trata de nenhuma novidade para quem está ligado ao meio político, seja por profissão, seja por afinidade. Mas o recorte exposto é, no mínimo, interessante.
Tudo pelo Poder fornece retrato chamativo dos bastidores de uma campanha, conta com elenco competente e conduz a história sem munir com informações privilegiadas nem personagens nem espectadores
Claro, não se pode aqui dar muitos detalhes. Eis a revelação permitida, apenas para contextualização: este filme de Clooney na direção traz Ryan Gosling no papel do diretor de comunicação Stephen Meyers. Ele atua na campanha do governador Mike Morris (o próprio Clooney). A devoção de Stephen ao trabalho beira o homoerotismo, como já se mencionou em crítica por aí. Não deixa de ser uma interpretação, mas a mais válida, ao que parece, é o crédito concedido pelo assessor de imprensa à causa defendida pelo governador.
Tudo pelo Poder é baseado na peça Farragut North, de Beau Willimon, e também traz nomes como Marisa Tomei, Philip Seymour Hoffman e Paul Giamatti, em ótimas interpretações. Leonardo DiCaprio está nos créditos: é um dos produtores executivos.
Em linhas gerais, o filme é bem convencional, sem grandes encantos na forma de narrar. A exceção é uma cena de chuva. Se Stephen não tem lágrimas suficientes para extravasar conforme se espera no momento, as gotas sobre o vidro do carro servem de complemento metafórico. O efeito é belo, em termos estéticos e narrativos. Oportuno lembrar que inexistem flashbacks ou off. Isso faz com que tanto espectadores quanto personagens tomem conhecimento dos fatos ao mesmo tempo.
Talvez por fornecer retrato chamativo dos bastidores de uma campanha, contar com elenco competente e conduzir a história sem munir com informações privilegiadas nem personagens nem espectadores, Tudo pelo Poder concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e ao Globo de Ouro de Melhor Filme, Ator, Diretor e Roteiro. Não teve êxito nas disputas. Mas que venceu a “primária” que é ser indicado aos prêmios, venceu.
https://www.youtube.com/watch?v=WaYoTHYQDXU
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