Dirigido, produzido e protagonizado por Denzel Washington, Um Limite Entre Nós, que rendeu à atriz Viola Davis o Oscar de melhor atriz coadjuvante (ainda que de fato ela também fosse protagonista), é a adaptação cinematográfica da peça teatral Fences, escrita por August Wilson em 1983. Vencedora do Pulitzer na categoria Drama (destinada a peças teatrais), a obra acompanha a história de Troy Maxson na longínqua década de 1950, um jogador de beisebol aposentado que sonhava tornar-se uma lenda do esporte. Contudo, a vida não lhe sorri, restando a ele o duro trabalho como coletor de lixo.
Troy mora com a esposa Rose (Viola Davis) e o filho mais novo, Cory (Jovan Adepo). Ele carrega consigo um imenso rancor por não ter conseguido obter sucesso na carreira esportiva, o que faz com que a relação com o filho seja estremecida, especialmente quando um recrutador é enviado para observá-lo jogando futebol americano.
Um Limite Entre Nós estabelece uma relação interessante a partir do conceito de destino, colocando em perspectiva a questão racial, a luta da população negra durante todo o século 20 e as relações familiares. Ainda que tenha resultado em uma boa adaptação, é inegável que o longa sofre com uma narrativa arrastada, resultado em parte da opção por concentrar o desenvolvimento da trama na residência dos Maxson, uma singela homenagem à origem de sua obra no teatro, como se a casa deles, especialmente os fundos, fosse uma espécie de palco.
Um Limite Entre Nós estabelece uma relação interessante a partir do conceito de destino, colocando em perspectiva a questão racial, a luta da população negra durante todo o século 20 e as relações familiares.
Indicado ao Oscar de melhor ator, Washington faz de seu Troy um personagem duro, orgulhoso. Trabalhador e dedicado à esposa com quem vive há 18 anos, ele é econômico no carinho e afeto dentro de seu lar. Curiosamente, uma de suas grandes características – a determinação em ascender socialmente como mecanismo de valorização – é encontrada em seu filho, mas isto cria uma ruptura na relação dos dois.
Isto acontece porque há um racismo enraizado no próprio Troy, herança de uma sociedade racista e preconceituosa. Não à toa, o personagem de Washington não considera que nenhum outro negro que jogue beisebol esteja à sua altura. Seu ego também é responsável por negar ao filho a possibilidade de crescimento. Para Troy, a sociedade nunca mudará para os negros, o que ele carrega como uma espécie de profecia. O personagem segue em constante equilíbrio entre um homem humano e carinhoso e o demônio que aterroriza a vida de Cory.
Contraponto à dureza do personagem de Denzel ao longo de todo filme, a atuação de Viola Davis é riquíssima. Companheira de Troy e, por vezes, a ferramenta que o coloca no eixo, Rose é uma mulher de fibra e força incomparáveis, sempre escondidas nas palavras mansas e no carinho para com o filho e o marido. Seria até injusto que o monólogo que a atriz comanda na segunda metade da obra, cheio de agonia e tensão, resuma sua estonteante atuação, que fez com que se tornasse a segunda atriz negra da história norte-americana a ganhar o Emmy, Tony, Globo de Ouro e Oscar (a primeira foi Whoopi Goldberg).
Um Limite Entre Nós oferece sequências densas e emocionantes, e o trabalho em cima da metáfora da construção de uma cerca é primordial em prender a atenção do público. Não obstante, a atuação soberba de Denzel Washington (e o longa-metragem) é prejudicada justamente quando o roteiro opta por delongar essa tensão entre pai e filho, que se aprofunda muito pouco, resultando em uma relação pouquíssimo humana e excessivamente cruel. De toda maneira, um grande trabalho não só de Viola, mas também de Washington, tanto na atuação como na direção.
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