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Lutar é preciso em ‘Uma Batalha Após a Outra’

Paul Thomas Anderson transforma o romance 'Vineland', de Thomas Pynchon, em um épico de ação e humanidade; 'Uma Batalha Após a Outra' revisita a história dos Estados Unidos para refletir sobre apagamentos, resistência e o poder corrosivo de quem reescreve o passado.

porPaulo Camargo
29 de setembro de 2025
em Cinema
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Leonardo DiCaprio dá vida a Bob em 'Uma Batalha Após a Outra'. Imagem: Warner Bros. / Divulgação.

Leonardo DiCaprio dá vida a Bob em 'Uma Batalha Após a Outra'. Imagem: Warner Bros. / Divulgação.

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Em Uma Batalha Após a Outra, o cineasta Paul Thomas Anderson retoma um impulso que sempre atravessou sua filmografia: a vontade de investigar a persistência do indivíduo diante de forças esmagadoras. Se em Magnólia e Sangue Negro a luta se dava em campos íntimos ou econômicos, aqui ela assume a forma explícita da insurgência. O resultado é um épico que se recusa a ser apenas um “filme do momento”, ainda que dialogue, em cada plano, com o presente saturado de crises e com as cicatrizes do passado estadunidense.

Baseado em Vineland, romance de Thomas Pynchon escrito nos anos 1980, o longa desloca o olhar irônico do livro para um registro mais humano e caloroso. Anderson filtra a sátira de Pynchon por uma lente de compaixão, transformando a rebeldia em matéria de afeto. Assim, a narrativa ecoa inevitavelmente os debates políticos dos anos 2020 — sobre extremismo, revisionismo histórico e vigilância do Estado —, mas nunca recorre a palavras de ordem ou jargões partidários. Seu gesto é mais sutil: acenar para A Batalha de Argel, lembrar os pecados dos pais fundadores, sugerir que a luta é uma herança ancestral.

O filme abre como se já estivesse no auge: a operação do grupo revolucionário French 75 na fronteira México-EUA é filmada com o fôlego de um clímax. Imigrantes são libertados, agentes são feitos reféns. No centro da ação, Perfidia Beverly Hills (a excelente Teyana Taylor) impõe sua presença com magnetismo brutal. O coronel Steven J. Lockjaw (Sean Penn) sofre não apenas uma derrota militar, mas uma ferida de ego que se tornará obsessão sexual e política. Essa fissura íntima aciona a engrenagem narrativa: a perseguição de Lockjaw a Perfidia, ao companheiro Bob Ferguson (Leonardo DiCaprio) e, mais tarde, à filha do casal, Willa.

Dezesseis anos separam a explosão inicial do segundo ato. Bob agora é um pai solo que divide o tempo entre a militância e a criação da adolescente (a revelação Chase Infiniti). A juventude de Willa contrasta com a obstinação de Lockjaw, cuja caçada se torna quase patológica. Quando Deandra (Regina Hall), aliada de Perfidia, precisa resgatar a garota de um baile escolar, a narrativa revela seu traço de suspense. Bob, por sua vez, procura o excêntrico sensei Sergio St. Carlos (Benicio del Toro) para despistar as tropas inimigas, em uma sequência que mistura humor e tensão — um lembrete de que até revolucionários esquecem senhas e códigos.

Paul Thomas Anderson trabalha a câmera com a urgência de quem não permite respiro. Em parceria com o diretor de fotografia Michael Bauman, cria uma mise-en-scène que privilegia o movimento, quase coreográfica, mas sem exibicionismo. Há momentos de pura contemplação — como a tomada do muro na fronteira, que parece pintura —, mas a tônica é de fluxo contínuo, como se a câmera respirasse junto dos personagens. A trilha de Jonny Greenwood, da banda Radiohead, intensifica esse pulso: longos trechos sustentados por uma única nota de piano, com súbitas dissonâncias, criam a sensação de um alarme subterrâneo que nunca se desliga.

Anderson trabalha a câmera com a urgência de quem não permite respiro.

O elenco reforça a densidade emocional. DiCaprio oferece uma atuação contida, guiada pelo amor paterno, tornando Bob um revolucionário que não se mede por discursos, mas pela devoção à filha. Sua composição do personagem, um “maluco beleza”, parece homenagear o protagonista de O Grande Lebowski, vivido por Jeff Bridges. Chase Infiniti, em sintonia com ele, injeta vitalidade à relação que dá ao filme seu coração. Taylor e Hall confirmam seu vigor, mas Sean Penn surpreende: entre o grotesco e o trágico, constrói um vilão que é ao mesmo tempo caricatura e ameaça real, metáfora viva do poder que reescreve, em tempos trumpistas, a própria história para se perpetuar.

No desfecho, sem recorrer a panfletos, Uma Batalha Após a Outra revela-se uma reflexão sobre apagamentos. O que não se ensina sobre Benjamin Franklin, o que se apaga dos livros e dos museus, o que se converte em mito para proteger a “pureza” branca. Em tempos de ataques ao ensino e à memória, Paul Thomas Anderson expõe a ferida com precisão, sem levantar bandeiras explícitas.

Mas o que torna o filme notável é seu humanismo. Não é a raiva que sustenta a narrativa, e sim a empatia. A frustração de Bob, o medo de Willa, a esperança que resiste mesmo quando tudo parece ruir: é nesse terreno que Anderson encontra sua verdade. Em vez de um manifesto, entrega um cinema de corpo e alma, que vibra como os melhores filmes de ação e, ao mesmo tempo, oferece consolo.

No fim, a mensagem é simples e poderosa. Não se trata de uma sucessão de derrotas. É uma batalha, depois outra, e mais outra. O convite é claro: continue lutando.

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Tags: Crítica de CinemaLeonardo DiCaprioPaul Thomas AndersonSean PennUma Batalha Após a Outra

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