A história de um pastor que se comove com a pregação de um morador de rua e, a partir disto, decide colocar toda sua fé em ação para ajudar as pessoas. Tendo ele como o centro da trama, as vidas de outras pessoas se cruzam, colocando em xeque a fé deles (e, por vezes, do próprio pastor) e permitindo que entrem em contato com o poder divino. Esta parece ser a premissa de algumas das novelas da rede Record ou mesmo aquelas representações que, por vezes, passam nos programas Fala Que Eu Te Escuto, nas madrugadas da mesma emissora. Contudo, é a base do enredo de Você Acredita?, que estreia esta quinta-feira nos cinemas brasileiros.
Com roteiro da dupla Chuck Konzelman e Cary Solomon, responsáveis por Deus Não Está Morto (que terá continuação, também escrita por eles), Você Acredita? conta em seu elenco com Sean Astin, Mira Sorvino e Cybill Shepherd, o que não garantiu ao longa um bom resultado. Que fique claro: o que o prejudica não são as atuações, mas sim a excessiva carga melodramática e o tom demasiadamente catequético.
É preciso deixar claro, também, que o que torna o filme fraco não é nada relacionado ao que defende (e que não faz questão nenhuma de esconder seu discurso “panfletário”). Incomoda como temas que poderiam ser debatidos de forma mais aprofundada (como o aborto, por exemplo) acabam sendo somente determinados como pecados, atitudes execráveis, dignas do mármore do inferno. Ou seja, o cinema perde seu papel de mediador e não se abre espaço para o diálogo.
É preciso deixar claro, também, que o que torna o filme fraco não é nada relacionado ao que defende.
O pastor Matthew (interpretado por Ted McGinley, da série Married… with Children – que no Brasil era chamada de Um Amor de Família) é o responsável por transmitir a palavra de Deus e conduzir com suas pregações o desenrolar da trama. Na tela vemos inúmeros milagres, arrependimentos e misericórdias divinas, que modificam os comportamentos dos personagens, porém, tornando os arcos narrativos estranhos, principalmente quando lembramos que se trata de um drama e não um sci-fi no qual as pessoas foram enfeitiçadas.
Ao longo da narrativa, Você Acredita? separa os que se salvarão dos demais num tom puritano, como se apenas os escolhidos merecessem as graças, os milagres e, até, a própria vida. E isso nem é a pior parte do filme. Jonathan Gunn, o diretor, foi infeliz ao transformar a representação dos arquétipos que o roteiro definia em generalizações rasas e estereotipadas. Até a conclusão da trama é quase um milagre, mas isso eu deixarei que o leitor confira com seus próprios olhos no cinema.
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